31 de janeiro de 2007

Noite histórica no Hot Clube

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Manuel Jorge Veloso, Bernardo Moreira e Justiniano Canelhas
Foto de João Moreira dos Santos

A noite de ontem (30 de Janeiro) foi uma noite histórica na longa história do Hot Clube. Como tínhamos anunciado previamente, três membros do antigo Quarteto do HCP reuniram-se em palco para homenagear o quarto elemento, o saxofonista Jean-Pierre Gebler, falecido no final de 2006.

Conforme referiu Bernardo Moreira, presidente do HCP e contrabaixista deste quarteto esta foi provavelmente "a última exibição" deste conjunto, formação que já não se apresentava em público desde meados do anos 80, quando da sua actuação no Festival Internacional de Jazz de Lisboa, na Aula Magna.

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Foto de João Moreira dos Santos

A sessão começou com Bernardo Moreira a introduzir os presentes ao espírito da homenagem a Gebler e ao filme Belarmino, a primeira longa-metragem portuguesa com banda sonora jazz, que foi seguidamente projectada. A apresentação deste filme prendeu-se com o facto da respectiva banda sonora ter sido composta por Manuel Jorge Veloso e interpretada pelo Quarteto do Hot Clube de Portugal, formação que aliás surge numa das cenas deste filme.

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Foto de João Moreira dos Santos

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Foto de João Moreira dos Santos

Seguiu-se uma apresentação de fotografias históricas de Jean-Pierre Gebler e do Quarteto do Hot Clube de Portugal, muitas delas nunca antes apresentadas em público.

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Bernardo Moreira salienta a importância do encontro musical entre Gebler e Dexter Gordon, nos anos 60, no Hot Clube
Foto de João Moreira dos Santos

O momento mais aguardado da noite era, porém, a actuação do trio formado por Justiniano Canelhas (piano), Bernardo Moreira (contrabaixo) e Manuel Jorge Veloso (bateria), que antes da sessão começar ainda combinavam os temas a interpretar, no bom espírito de jam-session que pretendiam imprimir à sua actuação.

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Foto de João Moreira dos Santos

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Foto de João Moreira dos Santos

Tal actuação, embora subvalorizada pelos próprios, alcançou um bom nível musical, ou não tivessem sido estes alguns dos primeiros músicos portugueses de jazz que embora amadores surgiram a tocar como profissionais. Dito de outra forma, a primeira geração a sério de jazzmen. Entre os temas tocados destaque para o original de Canelhas que incorpora a banda sonora de Belarmino e para There Will Nover Be Another You.

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Foto de João Moreira dos Santos

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Foto de João Moreira dos Santos

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Foto de João Moreira dos Santos

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Foto de João Moreira dos Santos

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Foto de João Moreira dos Santos

Um momento interessante e que prova a vitalidade do jazz em Portugal, não o dos festivais (apenas), mas o tocado, foi a partilha do palco entre a antiga geração e a nova geração de músicos de jazz, com a presença de músicos como João Moreira, Pedro Moreira, Filipe Melo ou Bruno Pedroso, que a partir de dado momento tomaram por completo as rédeas do espectáculo e seguiram em frente com a música, como aliás deles se espera, rendendo a "velha" guarda.

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Justiniano Canelhas, Pedro Moreira e Bernardo Moreira
Foto de João Moreira dos Santos

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Bernardo Moreira, Manuel Jorge Veloso e João Moreira
Foto de João Moreira dos Santos

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Foto de João Moreira dos Santos

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Nuno Gonçalves, Afonso Pais e Bruno Pedroso
Foto de João Moreira dos Santos

Importa ainda referir que esta sessão foi, e muito bem, gravada em áudio e vídeo, para mais tarde recordar.

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Foto de João Moreira dos Santos

30 de janeiro de 2007

Noite especial no Hot Clube

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Aguarela de Elsa Canavarro

Hoje vive-se uma noite histórica e especial no Hot Clube de Portugal.

A velha cave da Praça da Alegria recebe três músicos do antigo quarteto do HCP para uma homenagem ao quarto, o saxofonista barítono Jean-Pierre Gebler, recentemente falecido.

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A sessão começa às 21h30 com a exibição do filme Belarmino (onde este quarteto surge na sua composição original) e prolonga-se a partir das 23h00 com uma jam-session em que participam os referidos músicos do quarteto do HCP: Justiniano Canelhas (bateria), Bernardo Moreira (contrabaixo) e Manuel Jorge Veloso (bateria). A estes juntam-se seguidamente vários músicos da nova geração, prometendo uma longa e boa noite de jazz made in Portugal.

JNPDI! lá estará para relatar o que de mais importante se passar.

À Descoberta do Jazz no CNC

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Começou na semana passada o curso sobre jazz que estamos a ministrar no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, onde se fala desde as origens do jazz e diferentes estilos até aos seus criadores, passando pelos instrumentos utilizados (e sua audição e distinção visual) e pelas técnicas, aprendendo-se a perceber a improvisação, estruturas rítmicas, efeitos sonoros etc.

A aula de ontem, a segunda de 12, foi dedicada precisamente à distinção sonora e visual dos vários instrumentos utilizados no jazz e aos respectivos músicos que neles se distinguiram, tendo terminado com o visionamento do excerto de um DVD em que se puderam apreciar as capacidades fantásticas de Ella Fitzgerald no scat singing e ilustrar o conceito de trading two.

O número de inscritos ultrapassou as expectativas do próprio CNC, o que muito nos honra, mas constitui igualmente um enorme desafio.

Segunda-feira há mais!

28 de janeiro de 2007

Ver e ouvir o genial Jaco Pastorius

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Chegou recentemente a Portugal um DVD com a actuação do baixista Jaco Pastorius no Festival de Jazz de Montreal, acompanhado por Randy Brecker (trompete) Bob Mintzer (saxofone), Peter Erskine (bateria), Don Alias (percussão) e Othello Molineaux (steel pans).

JNPDI! já viu e assegura a boa qualidade do mesmo, ao contrário de outras gravações que po aí andam. E o melhor é que custa apenas cerca de 12 euros, na FNAC.

Aqui deixamos, pois, um trecho deste DVD do músico que revolucionou por completo a técnica e o papel do baixo eléctrico, criando toda uma nova linguagem melódica e rítmica que hoje muitos baixistas seguem, para não dizer praticamente todos.



Temas do DVD:

The Chicken
Donna Lee
Bass Solo (acima reproduzido)
Mr. Phone Bone
Fannie Mae

Downbeat Fevereiro 2007

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26 de janeiro de 2007

Que grande som, Miles Davis!



JNPDI! propõe hoje aos seus leitores um regresso aos anos 80 para ouvir Miles Davis tocar o tema Tutu, dedicado pelo mago do Trompete ao bispo Desmond Tutu.

A razão deste regresso prende-se com o facto de estarmos a ultimar para a revista Blitz um artigo de fundo sobre os concertos que Miles Davis deu em Portugal entre 1971 e 1991.

Sobre este mesmo artigo, daremos mais informação em breve.

25 de janeiro de 2007

45 anos de Belarmino, o primeiro filme português com jazz

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Belarmino, a primeira longa-metragem portuguesa com uma banda sonora de jazz, completa em 2007 nada menos do que 45 anos. Realizado em 1962 e estreado em 1964, o filme de Fernando Lopes documenta a história de um boxeur português, Belarmino Fragoso, e visita um Hot Clube que já não existe, com cadeiras de palhinha e uma bela pintura mural. A direcção musical e composição é de Manuel Jorge Veloso, com quem JNPDI! realizou uma breve entrevista.

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Manuel Jorge Veloso

JNPDI!: Como é que surgiu a oportunidade de compor e dirigir a banda sonora de Belarmino? Era no mínimo inusitado um filme português dos anos 60, sobre um boxeur português ter como fundo musical o jazz...

Manuel Jorge Veloso: O Fernando Lopes (realizador) também gostava de jazz, éramos amigos chegados (aliás, também colegas na RTP, onde nos conhecêramos) e ele ia muitas vezes ao Hot para ouvir jazz. Já dois anos antes o Fernando Lopes me convidara para compor a música para um documentário intitulado «As Palavras e os Fios», sobre a fábrica de cabos da CELCAT. E foi esse, em boa verdade, o primeiro filme português com jazz na banda sonora. Quanto ao «Belarmino», o rosto e o próprio balanço do Belarmino Fragoso (a andar e a jogar box), uma certa paixão pelo cinema americano que ambos nutríamos e ainda o próprio carácter duro da espantosa fotografia a preto e branco do Augusto Cabrita (de certo modo evocativa do cinema negro), justificaram que fosse o jazz a ser escolhido.

JNPDI!: Fale-nos um pouco do tema que compôs para o genérico do filme, tanto musicalmente como em termos de intenção emocional subjacente.

MJV: Neste caso, não há qualquer intenção emocional subjacente ao tema que escrevi para o genérico. Trata-se de um blues modal, cujo tempo e as próprias acentuações se adaptavam às mil maravilhas ao tipo de animação fotográfica que o Mário Neves queria fazer sobre as fotos do Augusto Cabrita. Tão simples como isso! Outras partes da música, isso sim, podem ter mais a ver com certas associações emocionais. Mas não o genérico.

JNPDI!: Há quem afirme que a gravação dos temas foi realizada sob a projecção do filme já montado e há quem, pelo contrário, afirme que foi realizada em estúdio. Como decorreu afinal o processo?

MJV: Não, a música não foi gravada com a projecção do filme. Nesse sentido (e salvaguardadas as devidas distâncias!) tratou-se de uma opção radicalmente oposta àquela que foi seguida pelo Miles Davis, por exemplo, ao gravar a célebre banda sonora para o filme «O Ascensor para o Cadafalso», do Louis Malle. Primeiro, decidimos (o Fernando Lopes e eu) em que sequências haveria música, cronometrei essas sequências (ainda em bruto, pois a afinação da montagem foi feita já na fase de pós-produção do filme) e gravámos a música nos estúdios do Valentim de Carvalho que depois foi ajustada na montagem final do filme.

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Belarmino em Belarmino

JNPDI!: Parece que os ensaios com o grupo de músicos clássicos que completam o quarteto do HCP foram um tanto demorados pela sua dificuldade em tocar de forma sincopada... Confirma?

MJV: Eu precisava, para o genérico e para uma passagem do filme em que o Belarmino passa junto da Igreja de S. Domingos, de um naipe de quatro trompas que, como é óbvio, só encontraria na Orquestra Sinfónica da (então) Emissora Nacional. O 1º. trompa era um grande instrumentista - Adácio Pestana - e infelizmente já não me lembro dos nomes dos restantes três. Como músicos do domínio da «clássica», era-lhes difícil como é óbvio swingar, pelo que tive de usar uma notação especial (não vale a pena entrar em pormenores técnicos) para que eles fossem «forçados» a swingar. O que veio a acontecer!

JNPDI!: Como surgiu a ideia de chamar para as gravações o trompetista Milou Struvay?

MJV: O Milou Struvay era um trompetista belga bastante bom - e amigo pessoal do Jean-Pierre Gebler, que era membro fundador do Quarteto do HCP - pelo que ele o convidou para vir até Lisboa, onde fizemos umas sessões no Hot, um concerto no cinema Império e a gravação da banda sonora para o filme.

JNPDI!: As bobines com as gravações originais estão preservadas?

MJV: Não sei se as bobinas originais estão preservadas. Eu tenho uma cópia em 7 ½ e o som foi recentemente tratado digitalmente para a edição em DVD do «Belarmino». Já agora, posso informar os leitores do seu blog que os temas de jazz da banda sonora do filme serão passados no meu programa «Um Toque de Jazz» de 27 de Janeiro de homenagem ao Jean-Pierre Gebler (RDP/Antena 2, 23.05/24.00), tal como excertos do concerto que realizámos no Cinema Império em 31 de Janeiro de 1964, do qual existe uma gravação amadora, até hoje inédita.

JNPDI!: A cena que se passa no Hot Clube estava planeada desde o início ou surgiu devido à participação neste filme do Quarteto do HCP?

MJV: Tanto quanto me lembro, estava prevista desde o início. Trata-se de uma montagem paralela entre dois mundos diversos da noite lisboeta da época: o cabaret Ritz Clube e o Hot, clube de jazz. A ligação entre as duas cenas é feita, afinal, sonoramente, por uma bela balada composta pelo Justiniano Canelhas, que era o pianista do Quarteto do HCP.

JNPDI!: E a célebre cena em que Luís Villas-Boas desce, no seu estilo inconfundível, as escadas que dão acesso ao Clube, como surgiu?

MJV: Havendo uma sequência passada no HCP, não poderia faltar (como assinatura) o velho Villas, a descer as escadas. Essa cena sempre esteve prevista.

JNPDI!: Este filme é também uma memória do Quarteto do Hot Clube de Portugal, consigo na bateria, Jean-Pierre Gebler (saxofone-barítono), Justiniano Canelhas (piano) e Bernardo Moreira (contrabaixo). Qual foi a importância de Gebler para o jazz em Portugal?

MJV: Foi enorme! Pelo repertório que passámos a trabalhar, pela atitude perante o próprio acto jazz, pelos contactos internacionais que, por essa via, o jazz português então começou a ter. Mas, melhor do que voltar a reafirmá-lo, reporto os seus leitores para o que Bernardo Moreira disse ao seu blog, por alturas da morte do Jean-Pierre. [NA: Ver post de 30/12/2006]

JNPDI!: Gostaria um dia de ver o tema que compôs interpretado pela nova geração de músicos de jazz portugueses?

MJV: Bom... a Maria Anadon, num CD que gravou há tempos dedicado às bandas sonoras do cinema português, incluiu uma versão do meu tema para o genérico do filme (cantada em vocalese) e uma versão (com letra) da balada do Canelhas, com arranjos do Carlos Azevedo.

22 de janeiro de 2007

O livro inédito da baronesa do Jazz



Acaba de sair em França um livro muito curioso, baseado no espólio de uma das mulheres que maior paixão teve pelo jazz.

Quem está familiarizado com a música de Thelonious Monk e os seus temas já ouviu certamente falar da baronesa Pannonica de Koenigswarter, assim como quem conhece a vida trágica de Charlie Parker, pois foi precisamente na casa desta que o génio do be bop faleceu.

Natural de Londres, do ramos inglês da família Rothschild, Nica - como foi alcunhada - desenvolveu desde cedo uma intensa paixão pelo jazz, pelo que a sua vida se cruzou com muitos dos seus gigantes, tornando-se mesmo uma amiga íntima e confidente. Deles recebeu, em homenagem, a atribuição do seu nome a um par de temas: Pannonica , de Thelonious Monk, Nica, My dream of Nica, de Sonny Clark, Blues for Nica, de Kenny Drew, e Thelonica, de Tommy Flanagan...

Com uma simples máquina Polaroid, Nica fotografou ao longo dos anos músicos como Dizzy Gillespie, Count Basie, Louis Armstrong, Duke Ellington, Lionel Hampton, Bud Powell, Sun Ra, Miles Davis, Charlie Mingus e Sonny Rollins. Entre 1961 e 1966, com o objectivo de editar um livro, perguntou a vários destes uma questão simples e ingénua: "Se te fossem concedidos três desejos, que pedirias?".

Esse livro acaba agora de sair, realizado a partir da maqueta original de Nica, e contém nada menos do que 300 respostas! Entre estas está a de Duke Ellington, que respondeu simplesmente "Quero o que há de melhor", e a de Miles Davis: "Ser branco!".

Dianne Reeves regressa ao CCB

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Dianne Reeves regressa pelo terceiro ano consecutivo ao CCB, mas não cansa.

A cantora repete no próximo dia 25 de Janeiro a fórmula do ano passado, apresentando-se com os guitarristas Russell Malone - colaborador habitual de Harry Connick, Jr. que o público conheceu ao lado de Diana Krall - e Romero Lubambo - que já emprestou a sua guitarra a nomes como Marisa Monte, Arto Lindsay, Ryuichi Sakamoto, Diana Krall eYo-Yo Ma.

Dianne Reeves é hoje considerada uma das mais directas sucessoras dasgrandes vozes femininas do jazz: Sarah Vaughan, Billie Holliday ou Dinah Washington.

A cantora norte-americana iniciou a carreira no final dos anos 70,mas foi na década de 80 que viu reconhecido o seu virtuosismo, tornando-se a primeira vocalista a assinar contrato com a editora Blue Note/EMI quando esta voltou a exercer funções.

Um dos grandes encantos de Dianne Reeves - além da magnífica voz - e que leva à aclamação tanto por parte do público como por parte da crítica, reside no facto de a cantora não assumir uma identidade puramente jazz, criando um estilo próprio que se traduz em actuações intensas, repletas de improvisação, e registos de estúdio mais contidos. Vagueando entre sonoridades R&B e ambientes mais pop, é no jazz que Dianne Reeves se reinventa e onde vai beber influências.

Foi até hoje agraciada quatro vezes com o Grammy para melhor performance vocal dejazz, pelos discos In The Moment - Live in Concert, de 2000; The Calling,de 2001; A Little Moonlight, em 2003; e em 2006 pela banda sonora do filme Good Night, And Good Luck.

[Baseado em informação da produção: Incubadora D'Artes]

20 de janeiro de 2007

Jazz e banda desenhada

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É sempre com satisfação que tomamos conhecimento do cruzamento entre o jazz e outras artes, neste caso a banda desenhada, que tão bem casa com este género musical.

Attack of the Jazz Giants: And Other Stories é um livro que reúne 14 histórias da autoria de Gregory Frost, internacionalmente reconhecido e premiado, ilsutradas por Jason Van Hollander.

Uma dessas histórias, "Attack of the Jazz Giants", leva-nos numa viagem imaginária ao sul racista dos EUA, onde o chefe de um "Klan" local e dono de uma plantação é destruído por uma chuva de instrumentos musicais e pelo som do jazz que passa na rádio através de músicos como Kid Ory e Bix Beiderbecke.

É caso para dizer que o Jazz dá para tudo...

19 de janeiro de 2007

Brad Mehldau em Portugal

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Na próxima semana, o piano de Brad Mehldau volta a ser o centro das atenções no grande auditório do Centro Cultural de Belém (24) e em dois outros grandes palcos: o recém restaurado e inaugurado Theatro Circo, em Braga (23), e o Cine-Teatro de Alcobaça (25).

Depois de no Verão de 2004 ter conquistado o auditório da Aula Magna, o pianista norte-americano voltou a Portugal em formato trio, com Larry Grenardier e Jeff Ballard, e regressa agora para três espectáculos a solo. Mehldau tem de resto afinidade com a Península Ibérica, pois foi precisamente em Espanha que foi descoberto pelo saxofonista Jesse Davis, quando tocava em Barcelona, cidade a que, aliás, tem voltado ciclicamente.

Também Portugal foi um dos países que primeiro o recebeu e lhe concedeu honras de grande pianista, com direito a intensa visibilidade mediática, quando se apresentou no Seixal Jazz em 1997, dois anos depois do lançamento do seu primeiro disco. Em 1999 voltaria novamente, desta feita para um concerto ao ar livre no Anfiteatro na Doca, no Parque das Nações.

O ano de 2006 foi bastante produtivo para Brad Mehldau. Três projectos diferentes tomaram forma de disco: Love Sublime, com a contribuição vocal da soprano Renée Fleming; House on Hill, com o seu trio; e Metheny Mehldau, a meias com o guitarrista Pat Metheny.

Com formação clássica, mas desde cedo apaixonado pelo jazz, Brad Mehldau é considerado actualmente um dos mais geniais pianistas de jazz do mundo. Influências tão variadas como Beethoven, Bill Evans, Schumann e Keith Jarrett fizeram com que Mehldau não criasse barreiras musicais. Exemplos da sua versatilidade são as participações em várias bandas sonoras e a revisão pessoal de temas de Radiohead, Beatles, Paul Simon e Nick Drake.

Elogiado pelas suas composições, a sua técnica e a sua enorme capacidade de improvisação, Brad Mehldau desloca-se a Portugal para apresentar o seu espectáculo a solo, depois de em 2006 ter esgotado o grande auditório do CCB em formato trio. O Brad Mehldau Trio formou-se em meados dos anos 90, editando o disco de estreia: Introducing Brad Mehldau, em 1995. É em formato trio que Mehldau melhor explora a sua paixão pelo jazz, facto de que são prova os álbuns intitulados Art of the Trio, já com diversos volumes, e o mais recente House on Hill.

Por não se rever apenas num estilo musical, é considerado um dos músicos mais arrojados e inovadores da actualidade. Participou nas bandas sonoras dos filmes Meia-noite do Jardim do Bem e do Mal, de Clint Eastwood, De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick e Million Dollar Hotel ? O Hotel de Wim Wenders. A sua admiração por áreas mais populares da música levou-o a reinterpretar temas dos britânicos Radiohead ? "Paranoid Android" e "Exit Music (For a Film)" ? e Beatles ? "Blackbird".

[Post baseado em informação da produção: Incubadora d'Artes]

À descoberta do Jazz no Centro Nacional de Cultura

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À descoberta do Jazz: Um século de história é a designação do curso que o Centro Nacional de Cultura inicia a partir de 22 de Janeiro, coordenado por mim, autor deste blog, e cujas inscrições superam até ao momento as nossas expectativas.

Com o objectivo de compreender o jazz, conhecer a sua história (de Nova Orleães para o Mundo), identificar as várias correntes e conhecer os grandes intérpretes este Curso divide-se em 12 módulos, sendo o primeiro de introdução às características que fazem o jazz e os nove seguintes dedicados à sua evolução cronológica, apresentando-se as várias correntes/estilos em que se foi desenvolvendo ao longo do Século XX. O módulo 11 segue a história do Jazz em Portugal e o módulo 12 apresenta as obras primas do jazz em disco.

Este breve curso será apoiado pela audição de discos e visionamento de vídeos, assim como pela exibição dos conteúdos em powerpoint, permitindo uma melhor exposição dos diferentes temas tratados. Adicionalmente, serão também analizadas as perspectivas de diferentes músicos relativamente ao jazz, nomeadamente da música clássica e da música popular portuguesa, como é o caso de Carlos Paredes.

Programa:

1. O que é o jazz? Principais características
2. Raízes, Nova Orleães e os primórdios do Jazz
3. Jazz em Chicago e em Nova Iorque
4. A era do Swing
5. Bebop: a revolução no Jazz
6. Cool Jazz e West Coast Jazz
7. Hard Bop e Funky/Soul Jazz
8. Jazz Modal
9. Avant-Garde e Free Jazz
10. Mainstream, Jazz-Rock, Jazz-Funk e Crossover
11. Jazz em Portugal
12. Obras primas do Jazz em disco

Coordenação: João Moreira dos Santos
Horário: segundas-feiras; das 18h30 às 20h00
Duração: 12 sessões - início a 22 de Janeiro
Preço para sócios do CNC: 150 euros

Mais informações aqui.

Este curso vem na sequência do Roteiro do Jazz na Lisboa dos Anos 20/40, que em 2005 organizei para o CNC, com grande sucesso.

18 de janeiro de 2007

Um Oscar para Peterson!

Para os muitos admiradores do trio de Oscar Peterson aqui fica uma actuação do mesmo no Bern International Jazz Festival, em 1986.

O tema é "Carnival" e a acompanhar o virtuoso do piano estão o contrabaixo de Niels Henning Orsted Pederson e a bateria de Martin Drew.

Dee Dee Bridgewater lança novo disco em Março

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© Philippe Pierangeli 2006

Dee Dee Bridgewater está de volta com um novo CD, a lançar em Março, desta vez acompanhada por vozes e instrumentistas do Mali, numa viagem às raízes africanas do jazz.

17 de janeiro de 2007

Camilo e Tomatito trazem Spain Again ao CCB

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É já no próximo dia 30 de Janeiro que Michel Camilo e Tomatito se encontram no grande auditório do CCB para apresentar ao vivo o disco Spain Again.

Camilo, um brilhante pianista e um prolífico compositor, goza de renome por combinar as ricas harmonias do jazz com os sabores e os ritmos caribenhos da sua República Dominicana natal. A viver actualmente em Nova Iorque tem citado Chick Corea, Keith Jarrett, Oscar Peterson, Bill Evans, e Art Tatum como suas inspirações.

Descoberto muito novo por Paco de Lucía, Tomatito é o grande guitarrista mundial flamenco da sua geração, tendo já acompanhado as maiores vozes de Espanha, incluindo o legendário Camarón de la Isla, e estrelas internacionais como Frank Sinatra e Elton John.

Navegando pelas fronteiras do jazz e do flamenco, Camilo e Tomatito criam uma experiência única e inesquecível. Mas, por mais diferentes que sejam as suas orígens, Camilo e Tomatito têm também muito em comum. Camilo venera o flamenco e Tomatito é um grande entusiasta do jazz. Ambos valorizam diversos tipos de música latina: o trabalho de Camilo tem dado relevância à sua paixão pela música afrocaribenha, assim como ao flamenco espanhol, aos ritmos afrocubanos, ao merengue dominicano, ao samba brasileiro e ao tango argentino.

Camilo e Tomatito conhecem-se desde os inícios dos anos noventa quando coincidiram em Espanha numa sessão de gravação para o grupo flamenco Ketama. Rapidamente se tornaram amigos, mas só começaram a tocar juntos em 1997, altura em que o Festival de Jazz de Barcelona os convidou a tocar em dueto numa homenagem ao falecido pianista espanhol de hard bop Tete Montoliu.

No verão de 1999 realizaram mais de 40 concertos em conjunto. O crítico do New York Times Jon Pareles classificou a sua actuação no Carnegie Hall como "juntos o duo encontrou um encanto indefinível". Tornou-se inevitável que realizassem um disco em estudio. Assim, em Agosto desse ano viajaram até Stamford, Connecticut, para gravar Spain. Juntar estes dois instrumentistas criou um dúo intimista que resultou numa experiência apaixonante para ambos. Ao longo do álbum, Camilo e Tomatito disfrutaram de uma comunicação de uma inegável intensidade, conseguindo um triumfo sem par não só a nível de vendas como também vencendo o Grammy Latino para o Melhor Disco de Jazz Latino.

Em Julho de 2005, o Festival de Jazz do Mar do Norte na Holanda convidou-os a tocar num concerto exclusivo, com todas as entradas esgotadas. Depois desta maravilhosa reunião concluiram que tinha chegado o momento de explorar o segundo capítulo da sua aventura musical compartida. Foi o seu grande amigo, o cineasta Fernando Trueba, quem lhes sugeriu o título para o novo disco: Spain Again, como que um fio condutor em relação ao primeiro .

Spain Again supõe a reunião de bons amigos que decidiram tocar juntos, ver até onde conseguem chegar e ver quanto podem descobrir de si mesmos. O novo álbum inclui as suas composições originais, uma homenagem a Piazzolla, standards de jazz e uma colaboração com o famoso cantante e compositor Juan Luis Guerra.

Tanto Michel Camilo como Tomatito apresentaram-se separadamente em Lisboa, em Novembro e Dezembro de 2005, o primeiro na Gulbenkian e o segundo no CCB, e esta é uma oportunidade única para os vermos a actuar juntos.

A tournée deste espectáculo, Spain Again, começa em Roma, dia 6 de Julho e terminará em Fevereiro de 2007 na Suiça, passando por Espanha, França, Dinamarca, Irlanda, Holanda, Londres, Turquia, Austria e também Portugal.

DESCRIÇÃO Preço/Bilhetes (euros)
Plateia Móvel 45,00
1ª Plateia 42,00
1º Balcão 32,00
2ª Plateia 40,00
2º Balcão 25,00
Balcão Lateral 30,00
Camarote Central 40,00
Camarote Lateral 36,00
Laterais 38,00
Lateral Deficiente 38,00

Duração do Espectáculo: 75 minutos sem intervalo

[Informação oficial da produção do espectáculo]

16 de janeiro de 2007

Recordar a voz de Betty Carter

Betty Carter (1930/1998) foi provavelmente a mais ousada cantora de jazz de sempre, não se coibindo de esticar os limites harmónicos e melódicos dos temas e standards a um nível que para muitos ouvintes se tornava difícil de entender, mas que para qualquer músico de jazz parecia como algo natural e à imagem do que qualquer saxofonista ou trompetista faria.

A sua ousadia custou-lhe caro. Não só Carter teve de criar a sua própria editora, para conseguir colocar no mercado discos que não eram de todo comerciais, como demorou extraordinariamente a ser reconhecida pelo público. Porém, o resultado final surgirá sempre com a sua consagração como voz única, inovadora e pioneira.

Em Portugal deu vários concertos inesquecíveis no Galp Jazz (1990), no Estoril Jazz (1996) e no Guimarães Jazz.

15 de janeiro de 2007

Hot Clube reabre terça-feira

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Aguarela de Elsa Canavarro

As instalações do Hot Clube de Portugal, na Praça da Alegria nº 39, em Lisboa, reabrem já na próxima terça-feira, dia 16, após um período de renovação e de pequenas obras de manutenção.

Durante a primeira semana de reabertura, o Hot Clube estará aberto às habituais "jam-sessions" que muitos dos músicos frequentadores do Clube costumam proporcionar. A programação de concertos regulares começará apenas na Quinta-feira, dia 25 de Janeiro.

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Foto de Augusto Mayer

O destaque vai para a homenagem ao saxofonista-barítono Jean-Pierre Gebler, falecido este mês, que nos anos 50/50 integrou o Quarteto do Hot Clube de Portugal juntamente com (por esta ordem na foto) Bernardo Moreira, Justiniano Canelhas e Manuel Jorge Veloso. É assim que a 30 de Janeiro (Terça) o Hot Clube organiza uma jam-session com musicos mais e menos jovens e a apresentação, a partir das 21h00, do filme Belarmino, com banda sonora de Manuel Jorge Veloso e onde o Hot Clube de Portugal e o seu referido Quarteto são participantes activos.

Antes desta homenagem o palco da velha, mas renovada, cave da Praça da Alegria, recebe o trio do pianista Rui Caetano, (Janeiro 25,26) e o Quarteto do pianista Júlio Resende (Janeiro 27)que integra um dos mais promissores instrumentistas portugueses da actualidade; o saxofonista Portuense, José Pedro Coelho.

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No inicio de Fevereiro (dias 1 e 2 - Quinta e Sexta) O saxofonista Ohad Talmor, o mais jovem parceiro musical do grande Lee Konitz, apresenta no Hot Clube o seu novo Quinteto, "News Reel" que conta com um excelente naipe de musicos da nova "cena jazzistica" de Nova Iorque.

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No Sábado dia 3, outro musico norte-americano fará a sua aparição no Clube o guitarrista Scott Fields, musico do jazz de "vanguarda" de Chicago, que recentemente gravou para a editora portuguesa Clean Feed e se apresenta em concerto unico, juntamente com um Trio de músicos portugueses.

A 8 ,9 e 10 de Fevereiro o guitarrista Miguel Martins faz a sua estreia em concerto no Hot Clube com o seu projecto "Kaleidoscópio Trio" que além do bem conhecido contrabaixista Carlos Barretto, integra também o baterista finlandês Markku Ounaskari.

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A 15, 16 e 17 de Fevereiro o excelente pianista belga, Jef Neve apresenta em Portugal , com a colaboração da Universal Music, o seu mais recente CD Nobody is Illegal. O Jef Neve Trio é considerado uma das maiores revelações do actual jazz Belga.

Os últimos concertos de Fevereiro serão das responsabilidade do contrabaixista Zeca Neves e do seu Sexteto "Miles & More". Projecto que percorre algumas fases da obra de Miles Davis sem no entanto deixar de ter cunho e identidade própria.>

Durante o mês de Fevereiro a Escola de Jazz do Hot Clube / Escola de Jazz Luiz Vilas-Boas apresenta no Clube, todas as Quartas-Feiras (7,14,21 e 28), vários grupos de alunos que aproveitam este espaço semanal para mostrar a evolução do seu trabalho no decorrer do ano lectivo.

14 de janeiro de 2007

R.I.P.

Michael Brecker (1949-2007)

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Fonte: www.downbeat.com


Alice Coltrane (1937-2007)

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Fonte: www.allmusic.com

Jazz: Preços mínimos na Fnac de Cascais

É de aproveitar a campanha de preços mínimos que a FNAC de Cascais está a promover na área do Jazz, ao contrário do que sucede noutras lojas desta rede.

Entre outros registos podem encontrar-se a 4,95 euros os seguintes títulos:

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11 de janeiro de 2007

Obrigado!

JNPDI! acaba de atingir hoje um total de 100 000 visistas desde que foi criado em Setembro de 2003.

Fazendo a média, dá cerca de 2500 visitas mensais.

A todos os leitores, femininos e masculinos, um muito obrigado por fazerem deste Blog um espaço vivo!

10 de janeiro de 2007

Maria Anadon: "À conquista de plateias por esse mundo fora"

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Maria Anadon é uma das melhores e mais versáteis vozes portuguesas do jazz e acaba de lançar um novo CD made in USA que não deixa qualquer dúvida a esse respeito. A Jazzy Way marca não só o seu regresso aos estúdios como também a participação numa banda multinacional exclusivamente feminina. Em Portugal apresenta-se já no próximo dia 13, no Forum Romeu Correia, em Almada, com um grupo latino. JNPDI! aproveitou a oportunidade para saber mais sobre os seus projectos e carreira.

JNPDI: Como é que se começa a cantar jazz num país de fado?

Maria Anadon: Começando por ouvir por volta dos 15, 16 anos com os amigos. Os amigos podem ser uma influência preciosa nalguns casos, relembro que por volta de 1977,78 por aí, ainda estávamos numa época em que alguns de nós tínhamos gira-discos e nos juntávamos para ouvir música. Havia o hábito de partilhar música, mas não no sentido de empresta aí que eu faço uma cópia. A situação mais comum era, se alguém ía fora e trazia um disco novo (há que relembrar que o mercado era muito fechado) partilhava-o com os amigos, depois o máximo de "pirataria" era fazer-se uma k7 que se ouvia até partir. Esse ouvir, no que me diz respeito, era muitas vezes feito na minha casa com mais uma série de músicos e gente que gostava de tocar e cantar e em que a escuta era atenta ao ponto de se tentar perceber que sax era (alto, tenor), onde é que está o prato simples da bateria, etc... no fundo eram quase aulas de treino auditivo. Felizmente os amigos ouviam Jazz e música clássica e essas influências ficaram e fizeram de mim a cantora de Jazz.

JNPDI: E, já agora, como é que uma cantora portuguesa consegue essa lança em África que é gravar um disco de Jazz na pátria do... Jazz?

M.A.: Quando comecei a trabalhar neste projecto a ideia inicial era trazê-las e gravar em Portugal, conjugando a gravação com concertos, tal como no meu primeiro cd, mas tanto eu como o Carlos Ferreira (responsável pela concretização desta iniciativa) começámos a achar que seria muito mais interessante sobretudo economicamente gravar nos EUA. No entanto, qualquer pessoa pode gravar nos US, editar é que já é outra coisa... Depois deste trabalho estar feito, foi a Sherrie Maricle, líder das Five Play e das DIVA Jazz Orchestra, que me levou a conhecer o seu manager, o Sr. Stanley Key (neste momento, meu manager em NY, dado que me convidaram a fazer parte dos dois grupos), e juntos apresentaram o A Jazzy Way à editora Arbors Records. Acho que estava no sítio certo à hora certa. Depois de tantos anos a cantar e a divulgar o Jazz, já não se está à espera que situações destas possam acontecer.

JNPDI: Este CD é, mais uma vez, um disco exclusivamente feminino, tal como o Why Jazz, de 1994. Coincidência ou opção?

M.A.: Depois de tantos anos a seguir ao primeiro cd, em que cantei o dois cd's em Português - Cem anos do cinema português (graças a Deus que as cantoras de jazz agora já o podem fazer com melhor aceitação) e Cantar poetas Portugueses, em Itália, a convite do pianista italiano Arrigo Cappelletti (Sofia de Melo Breyner, Mário de Sá Carneiro, Eugénio de Andrade, Fernando Pessoa ou até mesmo Camilo Pessanha) - numa tentativa de inovação e busca de novas sonoridades, inserção de um violoncelo e um acordeão numa abordagem ao Jazz que eu pretendia diferente, apeteceu-me voltar aos standards, que no fundo sempre me acompanharam. Quem melhor do que o primeiro grupo com quem gravei para o fazer? Passaram 12 anos e o Why Jazz? continua a ser um cd de que eu gosto. Daí a retomar o contacto com a Sherrie - que ao longo dos anos fomos tentando sem conseguir (tanto eu, como a Sherrie); muda-se de casa, de vida, de cidade e esquecemo-nos que existe uma "coisa" chamada net que nos põe em contacto com todo o mundo - foi um passo e foi com grande emoção que retomámos uma parceria que nunca devia ter sido interrompida. A escolha para este cd parece-me evidente, são excelentes músicos que vivem e respiram o Jazz da mesma forma que eu, com a vantagem de viverem no meio onde tudo acontece.

JNPDI: Fale-nos um pouco destas instrumentistas que a acompanham?

M.A.: Sherrie Maricle (baterista) é a lìder das Five Play e das Diva Jazz Orchestra, uma líder por excelência, um excelente músico. Não gosta de cantoras, mas convidou-me a integrar as suas duas formações, pelos vistos gosta de me ouvir cantar... [risos] Tomoko Ono é uma pianista de uma sensibilidade e cumplicidade no seu modo de acompanhar que me dá todo o chão que preciso para cantar e inventar. Anat Coehen é saxofonista, clarinetista, Pandeirista - não sei se o termo existe - e em NY tive a oportunidade de a ver tocar vibrafone. Se há pessoas talentosas Anat é sem dúvida uma delas. Tenho a certeza que será um dos músicos que mais vai dar que falar. Um prazer ser acompanhada por ela. Noriko Ueda é uma contrabaixista com um tempo excelente, é uma improvisadora fantástica e também uma criativa nos arranjos, um músico que gostaria de ter por perto sempre.

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JNPDI: Como decorreu a gravação deste disco? É muito diferente gravar em Portugal ou nos EUA?

M.A.: A gravação deste Cd ocorreu depois de um ensaio onde as conheci, no dia 5 de Junho, onde se fizeram os arranjos, onde descansámos por sentirmos que iria ser um óptimo trabalho. No dia 6 montou-se o material, fez-se som e concluiu-se o trabalho por volta das 7 da tarde. O cd misturou-se e masterizou-se no dia 7 e estava pronto. Quando gravei o primeiro cd, a convite do Nanã Sousa Dias, a diferença em termos de timing não diferiu muito, o Nanã é um músico que sabe como as coisas no Jazz funcionam, os músicos têm de tocar juntos, não há situações do "refaz por favor a linha de baixo... ou outra coisa no género". No Jazz vive-se em conjunto, para que a musica respire em simultâneo. Obviamente não há muitos Nanás, nem muitos estúdios com a capacidade de ter uma banda a tocar em simultâneo e os que existem são impraticáveis para a minha bolsa. Nisso NY dá cartas, com material de primeira linha.

JNPDI: Como foram seleccionados os temas?

M.A.: Fui eu que os seleccionei, são temas que me apetecia gravar fazia bastante tempo. Sugeri e foram aceites. No entanto estava aberta a sugestões.

JNPDI: O vocalese é também um elemento aliciante neste disco, nomeadamente o tema "Confirmation", de Charlie Parker. Acredita que o vocalese e o scat singing ? que poucas das cantoras actuais fazem ? faz realmente a diferença entre uma verdadeira cantora de jazz e uma cantora que apenas canta standards?

M.A.: Vou responder desta forma: apesar de eu improvisar nalguns destes temas, existiu uma senhora, uma grande referência do jazz, que tinha uma extensão vocal de 9 notas apenas e que se saiba nunca improvisou uma nota. Será que foi menos cantora por isso? Estou-me a referir à Miss Billie Holiday.

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JNPDI: É bem patente a influência da música brasileira em alguns dos temas em A Jazzy Way e "One note samba" é, a propósito, uma extraordinária interpretação. É um caminho a explorar ainda mais num próximo registo?

M.A.: Não foi premeditado esse puxar para um ritmo mais brasileiro numa ou outra música, foi o arranjo que se fez e o que a música sugeria. No que refere ao "One Note Samba" foi uma gracinha, quase um bónus track. Elas queriam que eu cantasse qualquer coisa em português, para além de eu neste Cd não ter intenções de o fazer, elas associam o português à musica brasileira. Obviamente que não conhecem nada da nossa música e a única coisa que me ocorreu, foi podermos percutir todas o tema, mesmo eu, e acabou por sair um tema que curiosamente tem aberto - não por sugestão minha - algumas das entrevistas que tenho dado na rádio. Um caminho a seguir? Não pensei nisso, quem sabe...

JNPDI: Há um tema que me impressiona e cativa particularmente neste disco: "Black Coffee". Nunca o tinha ouvido tão bem cantado depois da fabulosa versão por Sarah Vaughan. De quem é o arranjo?

M.A.: O arranjo desse tema é meu de há muitos anos. Aqui acabei por juntar a Anat dado que inicialmente cantava-o só com contrabaixo. Acho que ficou quase um lamento. É sempre muito agradável quando se consegue tocar alguém com uma interpretação. Obrigada.

JNPDI: Por falar em Sarah Vaughan? quem são as suas principais referências no jazz vocal?

M.A: sem dúvida a Sarah Vaughan é uma das minhas referências, mas eu costumo dizer em brincadeira que aprendi com a "ela". Ella Fitzgerald é sem dúvida a minha Primeira dama no Jazz. Mais tarde uma Carmen McRae, uma Betty Carter (que tive o previlégio de conhecer pessoalmente) e de uma forma geral as cantoras cujo registo é mais grave e me sinto mais próxima: Dee Dee Brigewater, Cassandra Wilson e Rachel Ferrel, para inumerar algumas.

JNPDI: O que podemos esperar do concerto no Fórum Romeu Correia no próximo dia 13?

M.A.: Uma entrega total de energia e musicalidade, desta vez com um sabor a Latin Jazz nalguns temas, dado que tenho um pianista cubano, o Victor Zamora, um percussionista argentino o Sebastian Cherriff, Guto Lucena (saxofones), brasileiro, Gustavo Roriz (contrabaixo), brasileiro, e Marcelo Araújo (Bateria), brasileiro.

JNPDI!: E da Maria Anadon, que pode o público esperar, isto é, que projectos tem em mente?

M.A.: No final do ano passado ao integrar as Five play participei em quatro concertos no Cork Jazz Festival ao lado de grandes nomes do Jazz internacional, donde a continuação de conquistar plateias por este mundo fora é sem dúvida a minha maior prioridade. Neste momento estou em preparação para uma primeira série de concertos nos EUA entre Abril e Maio.

8 de janeiro de 2007

Orgulho

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Foi com enorme satisfação e orgulho que recebemos hoje a notícia de que a entrevista que realizámos em 2006 a Helen Merrill para o site www.allaboutjazz.com foi considerada pelos editores desta verdadeira casa internacional do jazz como uma das 14 melhores do ano, num total de cerca de 120 entrevistas a músicos. Entre estes contam-se desde jovens talentos, como Adam Unsworth e Nik Bärtsch, passando por nomes já estabelecidos, como Pat Metheny e Dave Douglas, até alguns verdadeiros ícones do jazz, como Andrew Hill, Dave Holland e Sonny Rollins.

A selecção das melhores entrevistas publicadas neste site de referência no jazz internacional pode ser consultada neste link.


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