29 de novembro de 2006

Downbeat Dezembro 2006

07_03.jpg

28 de novembro de 2006

Jazz na Academia de Amadores de Música

jazz-1.jpg

A Academia de Amadores de Música promove um Curso de Jazz, para o qual estão desde já abertas as inscrições.

As aulas são asseguradas por Mário Delgado (Guitarra e Combo), Alexandre Dinis (Piano e Harmonia), José Menezes (Saxofone e Combo), Alexandre Frazão (Bateria) e Massimo Cavalli (Contrabaixo).

27 de novembro de 2006

Archie Bunker canta jazz?

486c2b80.jpg

Quem diria que o antipático e conservador Archie Bunker (personagem da célebre série televisiva "All in the family") era capaz de fazer uma perninha no tema "What is this thing called love"?

Pois não só era como foi e fê-lo acompanhado por Helen Merrill e Merv Griffin.

É verdade que não cantou muito... mas ficou a boa vontade.

25 de novembro de 2006

Dianne Reeves regressa ao CCB

DSCN8381.jpg

Quem também está de regresso ao CCB e em Janeiro, dia 25, é a voz de Diane Reeves, cantora que ainda no presente deu nesta mesma sala um grande concerto.

Com ela vêm as guitarras de Russell Malone e Romero Lubambo.

A não perder!

Brad Mehldau no CCB em Janeiro

p23243bg9ta.jpg

O pianista Brad Mehldau tem concerto agendado para o CCB, no dia 24 de Janeiro, desta vez a solo.

24 de novembro de 2006

Morreu Anita O'Day

oday1.jpg

Morreu Anita O'Day, uma das vozes mais emblemáticas do período do Swing e que ainda recentemente tinha completado 87 anos. Anita partiu ontem enquanto dormia, vítima de problemas cardíacos, em Los Angeles.

Esta é uma grande perda para o mundo do Jazz, ela que era a última grande representante do período do swing ainda viva e com cujo agente tínhamos já combinado uma longa entrevista sobre a sua também longa carreira. As perguntas ficarão agora sem resposta...

IndAnita.jpg

Anita tinha lançado um novo CD em Abril deste ano (o primeiro depois de um longo período de 13 anos passados longe dos estúdios de gravação) e actuado ao vivo num clube de Nova Iorque. Aliás, ainda recentemente Anita lançou um DVD de um espectáculo realizado em 2001...

Anita Belle Colton nasceu a 18 de Outubro de 1919, em Chicago, e começou por dançar, isto até descobrir os seus talentos vocais, tendo sido uma das primeiras cantoras de orquestra a colocar-se ao nível dos músicos, rompendo assim com o tradicional papel de ser "apenas uma voz".

De facto, Anita O'Day tinha a mesma garra e o mesmo swing dos músicos de jazz e a mesma vontade de improvisar e "brincar" com a música, características que lhe valeram grande popularidade, sobretudo com a memorável interpretação de "Let Me Off Uptown" (1941), em que dialoga com o trompetista Roy Eldridge numa gravação com a orquestra de Gene Krupa. Desse mesmo período podemos ver "Thanks For The Boogie Ride":



Volvido algum tempo, Anita deixou a orquestra de Krupa para se juntar à formação de Woody Herman, regressando à origem, mas para logo em 1943 passar a integrar a banda de Stan Kenton, com a qual gravaria em 1944 o primeiro gande êxito desta formação: "And Her Tears Flowed Like Wine".

Em 1946 (há 60 anos...) gravou a solo pela primeira vez, acompanhada por John Poole. Seria porém a Verve a lançá-la para o sucesso e bem se pode dizer que ambos o fizeram juntos, já que o primeiro album que gravou foi também o primeiro lançado por esta editora... Estávamos em 1955 quando o long playing Anita (aka This Is Anita) foi colocado à venda no mercado.

c639370a9c2.jpg

A partir daqui Anita aparecia em concertos e festivais de jazz ao lado de músicos como Louis Armstrong, Thelonious Monk e George Shearing. Seria um desses festivais que a tornaria famosa a nível mundial - o Newport Jazz Festival de 1958, gravado em filme e intitulado Jazz on a Summer's Day.



Não parece por vezes a nossa Maria Viana?



Entretanto, desde o início dos anos 50 até à década seguinte, Anita gravaria cerca de 20 lp para a Verve, tendo à sua disposição alguns dos melhores arranjadores musicais, como Billy May, e músicos: Oscar Peterson Quartet (Anita Sings the Most), Jimmy Giuffre (Cool Heat), Cal Tjader (Time for Two) e o fabuloso trio Three Sounds (Anita O'Day and the Three Sounds).

Tudo corria até que em 1967 a cantora sofreu um colapso físico provocado pelo uso de heroína e um ritmo alucinante de concertos. Seriam precisos três anos para Anita se libertar dos vícios de que se tornara dependente, fazendo o seu regresso artístico em 1970, no Festival de Jazz de Berlim. Por esta altura já Anita era bastante popular no Japão, onde gravou alguns LP, e já tinha a sua própria editora, a Emily Records.

A história da vida de Anita ficou contada na autobiografia High Times, Hard Times, publicada em 1981.

21 de novembro de 2006

E por falar em Espanha e em discos...

B0000070O1.01._AA240_SCLZZZZZZZ_.jpg

... foi precisamente no país vizinho que conseguimos encontrar um exemplar do CD Closeness, o disco em que Charlie Haden inseriu a gravação do momento em que no Cascais Jazz de 1971 dedicou uma canção ("Song for Che") aos movimentos de libertação dos povos nativos de Moçambique e Angola. Esta gravação escapou por mero acaso ao crivo da PIDE quando este músico foi detido na sequência do seu gesto político, como Paulo Gil relembrou no artigo que publicámos recentemente na revista Blitz:

«Disse-me o Charlie Haden que a gravação do tema "Song For Che", realizada em Cascais naquela noite, se encontrava na algibeira da gabardina que vestiu quando foi detido pela PIDE. Como, na Rua António Maria Cardoso, a gabardina foi pendurada num cabide existente no gabinete em que foi interrogado, e só depois disso é que o revistaram, a PIDE nunca confiscou a gravação...»

E foi assim que em 1976 Charlie Haden pôde incluir parte desta gravação no disco Closeness (no tema «For a Free Portugal»), que Paulo Gil e Rui Neves importaram para Portugal quando o primeiro era director-geral do Departamento de Discos da Valentim de Carvalho.

No disco pode ouvir-se Charlie Haden dizer:

"This next song is dedicated to the black people's liberation movements of Mozambique [imperceptível: Guiné?] and Angola".

Segue-se uma intensa salva de palmas e um urro colectivo de "yeah!" Estávamos em 1971 e o 25 de Abril e o fim da guerra colonial ainda tardavam, mas a insatisfação era agora bem audível.

Colecção Blue Note em saldos

elcorteingles.jpg

Pois é... mas é só em Espanha, país de onde podem não vir nem bons ventos nem bons casamentos, mas vem certamente bom Jazz e barato!

De facto os armazéns El Corte Inglés estão a vender a preços em conta (8,95 euros) os discos da editora Blue Note inseridos na coleccção Rudy van Gelder, ou seja, o melhor do seu catálogo. Também o catálogo da Prestige, agora nas mãos da editora Concord/Universal, se encontra em saldos, com discos históricos de Miles Davis, John Coltrane ou Eric Dolphy disponíveis a 7,95 euros.

festival.jpg

Entretanto, em Barcelona, de onde regressámos ontem, decorre o Festival de Jazz desta cidade, evento que teve início em Novembro e se prolonga até Dezembro. Por lá passaram e passarão nomes como Jamie Cullum, Cassandra Wilson, Lucky Peterson, Brad Mehldau, Joe Lovano, Keith Jarrett, Camilo & Tomatito, Madeleine Peyroux, Herbie Hancock e Maria Schneider Orchestra.

Este evento tem ainda como ponto de interesse as master classes (este ano asseguradas por Joe Lovano, Christian McBride, Robby Ameen e Ben Monder) e as conferências (g-r-a-t-u-i-t-a-s). Estas últimas têm este ano como oradores Ashley Kahn (autor do livro sobre a editora Impulse), Michael Ricci (do site Allaboutjazz) e Jordi Pujol Baulenas (que em 2005 publicou um excelente livro sobre a história do Jazz em Barcelona, como aqui demos conta).

Mas a diferença deste festival para os que se fazem do lado de cá da fronteira não se fica pela grandeza dos nomes e pela extensão. O festival é patrocinado por uma marca de cerveja que, à semelhança do que fazem cá as marcas nacionais com o rock, exibe o cartaz do evento nas camionetas de distribuição dos seus produtos, contribuindo para a sua divulgação e afirmando o seu orgulho na ligação ao festival. Por outro lado, a FNAC promove realmente o festival pois em vez de colocar os panfletos promocionais na entrada das lojas (como se faz por cá) os mesmos surjem na secção de jazz, inseridos estrategicamente no escaparate dos discos. Dito isto, claro está que desta forma os "fregueses" potenciais do Festival não têm de fazer realmente qualquer esforço para tomar conhecimento do mesmo, sejam eles espanhóis ou turistas de passagem. Por seu lado a FNAC pode sempre esperar que alguns dos "fregueses" do festival acabem por comprar algum disco dos músicos do festival cujos concertos pretendem ver ou, porque não podem ver, podem pelo menos ouvir. Nós próprios fizemos isso comprando este excelente disco de um duo que actua em 2007 em Portugal e cuja audição desde já recomendamos:

B00004TA43.01._AA240_SCLZZZZZZZ_.jpg

O preço? 5,95 euros...

Já agora, será que era para este evento que se dirigia José Duarte, que ontem aterrou em Barcelona?

DSCN1163.jpg

Mas ainda sobre Barcelona, convém referir que o Jazz não se esgota neste festival, pois existem vários clubes, entre os quais o conceituado Jamboree. Porém, o que ultimamente tem apresentado uma programação mais interessante e internacional é o Bel Luna, onde esta semana subia ao palco o trio de John Mayer.

DSCN1160.jpg

Quem procura discos que não se encontram facilmente nas grandes superfícies tem à sua disposição a loja Jazz Messengers, localizada em plena Rambla Catalunya, aonde sempre nos deslocamos quando visitamos esta cidade. A oferta é não só vasta como também variada, incluindo DVDs e livros.

mapa.jpg

Porém, se não se contenta com discos em formato CD e novos, preferindo os antigos e em vinil, então tem em Barcelona uma rua em que porta sim porta não existe uma pequena loja de discos à sua espera - Tallers - a 5 minutos apenas da Plaza de Catalunya. Mais abaixo, outra rua também interessante para o efeito é a Riera Baixa. Ambas estão localizadas no bairro El Raval (ver mapa: ruas assinaladas a cor-de-rosa).

17 de novembro de 2006

Herbie Hanc(r)ock no Coliseu

DSCN1148.jpg
Foto de João Moreira dos Santos

No princípio era o medo... Herbie Hancock entrou em palco e passou os dedos pelo teclado electrónico de onde saíam sons de coros vocais e outros efeitos datados e, dizemos nós, mesmo de mau gosto, produzindo um tema amorfo e despejado de interesse e emoção.

Iria o público aplaudir o não aplaudível? Seria Hancock capaz de realizar um mau concerto?

A dúvida só ficou esclarecida quando o tema inicial terminou e Hancock usou os seus dotes de comunicador para se dirigir ao público presente (apesar de tudo pouco para a dimensão da sala e retardatário, entrando aos magotes após o segundo tema...) e quebrar assim o gelo.

Só a partir daí se produziu realmente música e o medo inicial se dissipou. Hancock ao piano acústico revelava os seus dons de improvisador nato, marcado pela criatividade, originalidade e infinitude de recursos e pela reinvenção sonora. Assim serviu, por exemplo, o seu excelente "Dolphin Dance". Dos teclados electrónicos emanou uma das melhores versões do extraordinário "Watermelon man", plena de funky e muito bem apoiada pelos seus sidemen. Destaque para Nathan East, no baixo eléctrico, e para a guitarra "mágica" de Lionel Loueke, que planou em solo pelo éter do Coliseu.

Surge então um problema com o teclado electrónico... mas Hancock não se intimida, antes pelo contrário recorre aos seus dons de orador, improvisa em torno do tema e dá a deixa para um momento alto da noite: um solo absoluto de Loueke. Se aquela guitarra não cantou, andou lá perto, é verdade que apoiada por pedais de efeitos que permitiam gravar os grooves e colocá-los a rodar em loops. Mas de resto todos os múltiplos timbres e ritmos provieram apenas das suas mãos e de toda a sua herança africana.

Depois houve alguns temas do mais recente disco de Hancock, com Nathan East a dar a voz a "I Just Called to Say I Love You" (seria mesmo necessário?) e a "When Love Comes to Town", aqui sim um tema que pôs o Coliseu a bater os pés (happy feet!) e permitiu a Loueke evidenciar que a sua guitarra também sabe de Blues.

DSCN1120.jpg
Foto de João Moreira dos Santos

O público estava conquistado e queria mais. Hancock e o seu quarteto voltaram com "Cantaloupe Island" (não podia faltar!) e o concerto prolongou-se para além de 'round' midnight', não sem que várias cadeiras fossem ficando gradualmente desocupadas. (seria da música ou do avançado da hora?) Hancock recorreu então ao seu teclado portáil e passeou-se com ele pelo palco. Há quem o conteste pela utilização desta geringonça móvel, mas a verdade é que nos pareceu bem e permite uma maior interactividade com o público e com os músicos.

DSCN1129.jpg
Foto de João Moreira dos Santos

Era proibido fotografar? Bem, no fim a alegria era tanta que os flashes disparavam em todas as direcções e os telemóveis andavam no ar à procura do melhor ângulo... Ninguém pareceu incomodar-se, nem mesmo os músicos.

DSCN1079.jpg
Foto de João Moreira dos Santos

Enfim, o que se perdeu em jazz puro, ganhou-se em espectáculo e divertimento. Confesso que este concerto me deu um grande gozo e mais não digo...

Madeleine Peyroux em estreia em Portugal

Madeleine%20Peyroux%20FNAC.jpg

Madeleine Peyroux pisa pela primeira vez palcos portugueses já amanhã, data em que se apresenta no Grande Auditório do CCB, em concerto único.

Texto promocional

Destaque entre "monstros" do jazz contemporâneo, tais como Norah Jones e Diana Krall, e considerada a Billie Holiday dos anos 90, a cantora Madeleine Peyroux surpreende pela paixão perante a música e a humildade com que leva a carreira.

Madeleine Peyroux surgiu um pouco antes de Norah e Diana, mas optou pelo anonimato; preferia tocar e compor pelas ruas de Paris, onde começou a cantar, ou no meio do Central Park, em Nova York. No entanto, a sua falta de apetite para a fama não pôde ser engolida. Dona de uma voz apaixonante, Madeleine logo recebeu comparações a Billie Holiday, ao lançar seu primeiro álbum, Dreamland, em 1996. O segundo, Careless Love, foi lançado somente oito anos depois, em 2004.

Há meses atrás "sumiu do mapa" . Madeleine só queria um pouco de paz para recuperar-se uma cirurgia nas cordas vocais, na sequência da qual não sabia se poderia voltar a cantar.

Seu novo álbum mostra que, sim, e que voltou em grande forma. Half the Perfect World é um tributo às diversas influências e artistas que pautaram os seus 32 anos de vida, tais como Leonard Cohen, Tom Waits, Fred Neil e Joni Mitchell. Entre as canções estão covers de Dance Me to the End of Love (Leonard Cohen), You´re Gonna Make Me Lonesome When You Go (Bob Dylan) e Between the Bars (Elliott Smith). O álbum alcançou um lugar no Top Five da Billboard ? embora ela recuse o rótulo de cantora de jazz.

"Poderia levar a minha vida como um anarquista, mas isso nem sempre é compatível", declarou, em entrevista à CNN, sobre sua paixão por fazer música e sua abominação pelo lado mercantil da indústria fonográfica.

Todo esse talento e sonoridade, que mistura blues antigos e música francesa, com folk melancólico e jazz, estará presente no palco do Grande Auditório do CCB, no dia 18 de

16 de novembro de 2006

Galliano evoca Piazzolla no CCB

21_RICHARD_GALLIANO.jpg
Foto de Sergio Cabanillas, 2002

É já amanhã que Richard Galliano leva o seu septeto ao CCB para uma vibrante evocação da música de Astor Piazzolla.

Galliano conheceu Piazzolla em 1983 e a amizade que cresceu entre ambos durou até à morte do argentino em 1992.

A influência que Piazzolla exerceu sobre Galliano foi ficando clara ao longo dos registos de estúdio que gravou para a editora Dreyfus. Depois de em 2001 compilar os seus maiores êxitos em Gallianissimo, o acordeonista francês resolveu prestar homenagem ao seu mentor argentino e editou Piazzolla Forever. O álbum é um registo do concerto que deu no Willisau Festival em 2002 como forma de assinalar os 10 anos da morte de Piazzolla.

B000E3LJ9E.01.LZZZZZZZ.jpg

É com este espectáculo, em formato septeto, que Galliano se desloca a Lisboa, sendo acompanhado por:

HERVÉ SELLIN: Piano
JEAN-MARC PHILIPS: Violino Solo
SÉBASTIEN SUREL: Segundo Violino
JEAN-MARC APAP: Violino Alto
HENRI DEMARQUETTE: Violoncelo
STÉPHANE LOGEROT: Contrabaixo

15 de novembro de 2006

Herbie Hancock em Lisboa

main_home.jpg

É já amanhã que Herbie Hancok actua no Coliseu de Lisboa com Vinnie Colaiuta (bateria), Nathan East (baixo eléctrico) e Lionel Loueke (guitarra).

Depois de Keith Jarrett, outro grande pianista do Jazz... ambos antigos músicos de Miles Davis.

É, porém, de crer que este concerto navegue mais pelas águas da fusão com o rock e a pop, isto tendo em conta que Hancock vem preparado para "atacar" os teclados do sintesidador e observando o curriculum dos seus sidemen: Nathan East é conhecido pelo seu trabalho com Eric Clapton e Colaiuta colaborou durante uma década com Frak Zappa, vindo depois a tocar com Sting ou Barbra Streisand, entre outros.

Cascais Jazz evocado na RTP 2:

55d4d362.jpeg

O programa Câmara Clara, apresentado por Paula Moura Pinheiro, evoca na próxima edição (sexta-feira, 17 de Novembro, às 22h30) os 35 anos do Cascais Jazz, evento que decorreu nos dias 20 e 21 de Novembro de 1971, abrindo caminho para a afirmação definitiva deste género musical Portugal e sua democratização. Para tal serão exibidas imagens de arquivo, sempre plenas de interesse.

Queremos deixar aqui o nosso agradecimento à equipa da 2:, nomeadamente a Jorge Wemans e Paula Moura Pinheiro, pelo pronto acolhimento à nossa proposta para a realização desta justa homenagem por parte do canal televisivo que viveu por dentro o Cascais Jazz e permitiu que ainda hoje o possamos revisitar em imagens e som.

14 de novembro de 2006

Miles Davis visto pelo filho

0879308753.01._SS500_SCLZZZZZZZ_V61213330_.jpg

Acaba de sair nos EUA mais um livro sobre a vida de Miles Davis, só que desta vez é um livro especial porque o seu autor é nada menos do que um dos filhos do mago da trompete, Gregory Davis.

O título do livre sugere bem o que nele se pode encontrar: Dark Magus: The Jekyll and Hyde Life of Miles Davis.

Keith Jarrett: os temas do concerto

DSCN0764.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

Foi o seguinte o alinhamento dos temas interpretados por Jarrett, Peacock e DeJohnette no concerto do passado dia 12, no Centro Cultural de Belém:

Primeiro Set:

1) Tonight (from West Side Story)
2) The Bitter End
3) Bye Bye Blackbird
4) So Tender (Keith Jarrett)
5) Middle Eastern Improvisation

Segundo Set:

6) I'll See You Again
7) Is It Really The Same (Keith Jarrett)
8) I Thought About You
9) Round Midnight

Encores:

10) One For Majid
11) When I Fall In Love

Manuel Jorge Veloso publicou hoje no Diário de Notícias uma crítica esclarecida e esclarecedora sobre este concerto.

13 de novembro de 2006

Keith Jarrett: nos bastidores com o génio do piano

DSCN0732.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

JNPDI! acompanhou de perto os bastidores do concerto do ano em Portugal, ou seja, a estreia entre nós do trio de Keith Jarret/Gary Pecacock/Jack DeJohnette, e dá-lhe conta do mais importante.

Jarrett e os seus companheiros chegaram ao Aeroporto de Lisboa por volta das 16h30, vindos de Madrid, num jacto fretado para o efeito. Dada a imensa bagagem que transportam, Jarrett, Peacock e DeJohnette preferiram ficar alojados em Madrid, onde haviam actuado na noite anterior e de onde partem posteriormente para Barcelona, onde realizam novo espectáculo na próxima quarta-feira.

Inicialmente ainda esteve prevista a estadia em Lisboa, no Hotel Bairro Alto, mas segundo o agente do músico, Stephen Cloud, não é costume o trio ficar instalado em hotéis tão pequenos, pelo que a opção foi Madrid, onde Jarrett gosta de passear pelas ruas acompanhado da sua mulher e dedicar-se ao seu hábito de comprar peças de relojoaria. Quanto ao Ritz, apesar do seu prestígio, foi considerado um pouco bafiento e afastado do centro da cidade...

Transportados em dois Mercedes para o CCB, onde os três fotógrafos autorizados a captar imangens estavam já sob constante vigilância da organização, sendo convidados a esconder máquinas e demais equipamento até sinal em contrário, os músicos rapidamente se dirigiram ao palco para dar início ao sound-check. Curiosamente, Jarrett e a sua mulher são entusiastas da fotografia, viajando com equipamento fotográfico avaliado em nada menos do que 55 000 USD, entre máquinas e lentes...

DSCN0690.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

À espera de Jarrett estavam dois pianos Steinway que o músico experimentou alternadamente, saltando de um para o outro. A escolha acabou por recair no que a organização já previra (à direita na foto).

DSCN0764.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

DSCN0839.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

Foi ao som de temas como "For All We Know" e até "Happy Birthday To You" que o trio foi explorando a acústica da sala e o equipamento de som.

DSCN0828.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

Entretanto, os fotógrafos aguardavam impacientemente a ordem do agente de Jarrett para começar a disparar.

DSCN0856.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

DSCN0874.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

Não ficariam, porém, desiludidos pois para além do tempo de que dispuseram para fotografar o trio puderam ainda captar o momento em que Jarrett decidiu trocar de lugar com DeJohnette: o primeiro sentou-se à bateria e o segundo ao piano. Fotografias pouco habituais estas do mestre do piano de baquetas na mão...

DSCN0875.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

Já DeJohnette ao piano não é tão raro, ele que é conhecido pela sua habilidade também neste instrumento.

DSCN0703.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

Só Gary Peacock se manteve fiel ao seu contrabaixo.

DSCN0680.jpg
Foto de João Moreira dos Santos (Direitos reservados)

Após o sound-check, tempo para jantar, refeição que esteve para mudar de sala devido ao braulho do ar condicionado, mas acabou porém por se manter na original. A ementa, essa, tinha sido enviada com alumas semanas de antecedência e a produção do CCB esforçou-se por providenciar os pratos solicitados por Jarrett e seu trio: frango assado, arroz, pasta, cafés ("Keith loves Expresso", afirma o agente), bom vinho e muita água. As sobremesas, autênticas iguarias, acabaram entretanto por ser ignoradas pelos músicos, que preferiram ir ao bar dos artistas comer uns simples pães de Deus...

Após o concerto, Keiih Jarrett foi convidado por Carlos Moura, Relações Públicas do CCB, a assinar o livro de honra deste espaço cultural. Sem grande espanto, os membros do trio limitaram-se a deixar a sua assinatura e mais não disseram...

E poucos minutos depois do concerto já Jarrett e o seu trio iam a caminho do aeroporto, não sem que o respectivo agente prevenisse o piloto do avião para que se preparasse para o take-off... Da sua passagem por Lisboa e do contacto com este génio do piano, ficou a ideia de uma pessoa muito fechada, pouco sociável (à chegada ao aeroporto de Lisboa deixou mesmo pendurada uma mão que lhe fora estendida por um dos elementos da produção e preocupou-se apenas em chegar rapidamente aos Mercedes) e muito sensível.

No final, só não demos pela presença do grupo de italianos que o agente de Jarrett nos disse viajarem por toda a Europa, acompanhando os seus concertos, mas provavelmente estiveram presentes de forma discreta.

De referir que o concerto foi gravado, ao invés do que sucedeu em Madrid e Sevilha. Com efeito, o engenheiro de som do trio passou desde há algum tempo a carregar um sofisticado gravador de 12 pistas (possível de expansão até às 24 pistas), isto após a frustração de nos últimos cinco anos Jarrett ter gravado por duas vezes concertos num antigo aparelho de duas pistas e ter-se visto depois impossibilitado de o editar em disco devido à baixa qualidade da gravação.

Quem sabe, pois, se não teremos um dia este trio ao vivo em Lisboa, num disco ECM...

11 de novembro de 2006

Wayne Shorter: sublime!

DSCN0460.jpg

Wayne Shorter e o seu quarteto deram no passado dia 9 uma autêntica lição de modernidade e bom jazz na Culturgest, fazendo jus ao que este grande compositor e saxofonista tem afirmado ultimamente sobre a sua música:

"Cheguei a um ponto em que digo «não quero saber de regras». É o que faço agora com a música. Tenho 71 anos, não tenho nada a perder. Vou para o desconhecido".

DSCN0472.jpg

Cremos que se Miles Davis não tivesse enveredado pela fusão teria provavelmente terminado os seus dias a tocar algo próximo da música actual de Shorter. Aliás, pequena subtileza, o concerto iniciou com o saxofone-tenor de Shorter a soar como o trompete de Miles soava na década de 50.

Talvez tenha sido um puro acaso, mas a verdade é que Miles acabou por ser assim evocado, embora a sua presença seja notória na forma como Shorter conduz o concerto: tal como Miles não dirige uma palavra ao público e fala por gestos com os músicos. A música parece ser a sua única preocupação quando está em palco, focando nela toda a sua atenção e energia.


De realçar a excelente prestação do contrabaixo de Patitucci e da bateria de Brian Blade (capaz de incendiar o quarteto e de entender com grande precisão o que ele necessita em termos de percussão a cada momento). Danilo Perez pareceu-nos bem melhor do que no concerto do Estoril Jazz em 2003.

Para já, e de todos os concertos a que assistimos durante o presente ano, parece-nos ter sido este o mais conseguido. A ver vamos, pois o mês de Novembro ainda mal começou e jazz é o que não vai faltar!

10 de novembro de 2006

Hey guys!

DSCN0458.jpg
John Patitucci, Brian Blade e Danilo Perez, ontem à chegada à Culturgest.

Aguardávamos ontem pacientemente o início do concerto do Quarteto de Wayne Shorter quando irromperam inesperadamente pelo foyer da Culturgest os músicos deste combo.

A oportunidade era única e com um descontraído "Hey guys, how about a photo for a Portuguese jazz blog?!" lá se arrancou a imagem ao muito apressado trio.

É caso para dizer que o "repórter" estava lá...

Quanto a Wayne Shroter estava, segundo fomos informados, a essa hora a dar uma entrevista à revista Vogue.

Dia 11, todos ao Hot!

aaron_001.jpg

É um grande pianista e toca no Hot Club de Portugal no dia 11 de Novembro, juntamente com dois músicos que dispensam apresentações: Omer Avital (contrabaixo) e Ali Jackson (bateria).

Aaron Goldberg, que tem uma forte ligação a Portugal e ao Hot Clube em particular, vem apresentar o seu mais recente CD, Worlds, registo em que contou com a colaboração de Reuben Rogers, Eric Harland, Kurt Rosenwinkel e Luciana Souza...

B000F6ZP22.01._AA240_SCLZZZZZZZ_V54226478_.jpg

Goldberg aprendeu jazz com Bob Sinicrope e Jerry Bergonzi e estudou na New School for Jazz and Contemporary Music, em Nova Iorque, onde teve como colegas músicos como Omer Avital, Brad Mehldau, Roy Hargrove e Ali Jackson.

Entre os grandes nomes do jazz com quem tocou contam-se Betty Carter, Al Foster, Nicholas Payton, Stefon Harris, Tom Harrell, Freddie Hubbard, Mark Turner, Joshua Redman, Kurt Rosenwinkel e Wynton Marsalis...

A não perder!

De resto, a programação de Novembro do Hot Clube tem vários pontos de interesse:

A 17 e 18 (Sexta e Sábado) o guitarrista Afonso Pais tocará com o seu novo Quinteto. Esta formação com saxofone e trombone integra alguns dos melhores executantes do jazz feito em Portugal.

A 23, 24 e 25 o baterista Paulo Bandeira apresenta o seu Quarteto que conta com a participação do excelente e já nosso conhecido saxofonista espanhol, Jesus Santandreu.

A Quarta-feira dia 29 será uma noite diferente ! Será também uma aventura "arrumar" no palco do Hot Clube o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, conduzido pelo Maestro, Christopher Bochmann. Será uma experiência interessante tanto para o público como para os músicos que de uma forma entusiasta aceitaram este desafio. Este concerto conta com a estreia absoluta de obras de Clotilde Rosa e Pedro Moreira, além de outras de compositores de referência na musica contemporânea portuguesa.

Nos dia 30 de Novembro, 1 e 2 de Dezembro (Quinta a Sábado), teremos mais três noites especiais, desta vez com um Quarteto co-liderado pelo saxofonista britânico, Julian Arguelles e pelo nosso bem conhecido pianista, Mário Laginha. Esta será outra série de concertos a não perder!

9 de novembro de 2006

Bruno Santos: A tradição ainda é o que era...

DSCN0424.jpg
Foto de João Moreira dos Santos

Nascido na ilha da Madeira, chegou a Lisboa, viu e convenceu e aos 30 anos Bruno Santos conta já com oito discos no seu curriculum, sendo um dos guitarristas mais solicitados no meio jazzístico nacional. A sua guitarra, fiel à tradição de mestres como Wes Montgomery e Jim Hall, tem colorido os registos e concertos de músicos como Laurent Filipe, Bernardo Moreira e Ana Paula Oliveira, Filipe Melo e Marta Hugon. JNPDI! quis saber mais e aqui fica o resultado de um longo e interessante diálogo numa manhã de Novembro...

JNPDI!: Como é que chegaste ao jazz?

Bruno Santos: Comecei, como quase todos os guitarristas, a tocar rock e pop porque a guitarra é um instrumento que se consegue aprender sem saber nada de música, só vendo e copiando posições. Entretanto comecei a ter aulas, interessei-me por uns acordes da bossa-nova e a partir daí aproximei-me cada vez mais do jazz, primeiro a ouvir as coisas mais próximas da bossa-nova e depois a ouvir a big band do Duke Ellington.

JNPDI!: E como é que tiveste contacto com os discos do Duke Ellington?

BS: Havia na madeira um núcleo pessoal, que ainda existe, coordenado por um músico amador (Jorge Borges) - que aliás é professor de economia mas tem uma grande paixão pelo jazz - e que nos mostrava discos e nos punha a ouvir standards. Eu comecei a gostar e a tocar algumas coisas aí e depois decidi que era aquilo que queria fazer e então vim para Lisboa.

JNPDI!: Até porque a ilha da Madeira não é propriamente conhecida pelo Jazz...

BS: De facto na madeira o meio é um bocado pequeno, apesar de haver grande tradição musical nos hotéis.

JNPDI!: Onde é que começaste a estudar guitarra?

BS: No Algarve, onde estava a estudar gestão de empresas. Fiz lá umas aulas no conservatório e paralelamente tive duas ou três aulas com o Zé Eduardo. Entretanto desisti do curso já com a ideia de vir para o Hot Clube, mas resolvi ir para a Madeira mais um ano para ter umas aulas e aprofundar algumas coisas básicas, para cortar um pouco o caminho.

JNPDI!: E é aí que entras no conservatório do Funchal. Quanto tempo estudaste?

BS: No conservatório do Funchal cheguei a estar quase dois anos. Foi uma coisa já mais a sério e paralelamente continuei a ter aulas relacionadas com o jazz e a participar no tal núcleo e foi aí que mantive a chama do jazz activa.

JNPDI!: E tinhas aulas de guitarra?

BS: Tinha aulas particulares com um impulsionador do jazz na Madeira, o Humberto Fournier - que está directamente relacionado com o curso de jazz que agora existe no conservatório do Funchal - e ele mostrava-me discos e dava-me a conhecer músicos. Eu próprio também comecei a fazer a minha pesquisa; procurei uns livros, comprei uns discos...

JNPDI!: E a seguir, em 1998, vens para a escola do Hot Clube. Este é certamente um marco importante na tua aprendizagem.

BS: É, até porque um ano antes eu já estava com ideia de vir para cá e estava ansioso. Depois de estar em Lisboa reparei que havia uma grande diferença na quantidade de músicos e no nível, que era obviamente muito superior, além de ter também a possibilidade de ver concertos. Tudo isto me fez em pouco tempo perceber que era aqui que eu queria ficar.

JNPDI!: Quem foi o teu mentor de guitarra no Hot?

BS: Tive aulas com vários professores, mas o primeiro de todos foi o Mário Delgado e foi bastante importante porque ele é uma pessoa muito organizada nas aulas e deu-me informação básica, mas bastante sólida e fundamental. Tive ainda o Vasco Agostinho, que também foi importante, e o André Fernandes.

JNPDI!: O que é que fez realmente a diferença no Hot em termos de aprendizagem?

BS: Acho que o mais importante foi provavelmente conviver com os músicos, neste caso com os meus professores da altura - não só os de guitarra mas também os de outros instrumentos, que são músicos que tocam regularmente - e conhecer uma série de pessoas que estavam a estudar comigo e poder tocar com elas. Acho que isso é o mais importante numa escola: entrar no meio, conviver com as pessoas e vê-las de perto a tocar.

JNPDI!: E começaste a entrar nas jam-sessions da cave da Praça da Alegria, no Hot?

BS: Sim, comecei aos poucos e inclusive estive quase dois anos a chegar lá às dez da noite às terças-feiras para me juntar com o Dr. Barros Veloso, que é uma enciclopédia de standards. Foram dois anos bem passados e bastante importantes.

JazzOM024-1.jpg
Com Tó Zé Veloso e Bernardo Moreira, na sede da Ordem dos Médicos (2005).
Foto de Isabel Almasque

JNPDI!: Um ano depois de entrares na escola do Hot já estavas a representá-la no encontro anual da IASJ (International Association of Schools of Jazz)... Que significado teve para ti esta experiência?

BS: Foi bastante importante. Para já porque é sempre gratificante representar o Hot Clube fora do país e depois porque tive a oportunidade de conviver com uma data de músicos de todo o mundo; estudantes e professores.

JNPDI!: Notaste alguma diferença substancial de nível musical entre os alunos portugueses e os de escolas de outros países?

BS: Na altura achei algumas diferenças, mas acho que teve a ver com o facto de na época não haver no Hot um ou dois alunos ao nível de alguns que encontrei lá. Talvez fôssemos para aí uns 150 alunos e havia oito ou nove que se destacavam claramente, mas acho que era aleatório, eram pessoas de países diversificados: Itália, Finlândia... É claro que havia um americano que se destacava, um contrabaixista, mas não senti grandes diferenças devido ao facto de quando estamos a falar dos dois melhores alunos de cada escola à partida são sempre dois bons músicos... Havia se calhar uma dezena que se destacava e nenhum deles era do Hot.

JNPDI!: Entretanto voltaste ao Hot no ano 2000, agora já como professor, onde dás aulas individuais de guitarra, laboratório e combos. Em que consistem estas actividades, especialmente o laboratório, que é talvez o que mais curiosidade pode suscitar entre os leitores?

BS: No laboratório, que é uma fase inicial do instrumento, basicamente há uma preocupação com a parte técnica, a parte puramente técnica, e há um primeiro contacto com o material que se usa na cena jazzística: escalas, acordes, tocar um ou outro tema... Há sempre também um trabalho de fim de semestre que passa por tirar um solo [de um disco] ou uma melodia interpretada por exemplo pelo Miles Davis ou pelo John Coltrane. Na aula individual, que é o nível mais avançado, tenho a preocupação de pôr os alunos a tocar melhor, mudar o aspecto dos acordes, mudar o aspecto da técnica, mudar o aspecto do fraseado... Tento ir por aí - respeitando o programa, mas tendo a flexibilidade de perceber que um aluno ou outro têm de trabalhar mais um aspecto em concreto - dou algumas dicas sobre o que devem ouvir e ponho-os também a ouvir música e a tirar alguns solos. No combo a coisa funciona como uma aula avançada de instrumento: oriento vários alunos/instrumentos e dou dicas sobre o que devem ouvir, como devem tocar em grupo e o que devem fazer para melhorar.

JNPDI!: Como fazes a selecção do repertório para esses combos?

BS: Varia com a formação; tento adaptar o repertório à formação que tenho. Se for com uma cantora à partida 80 a 90% dos temas serão temas possíveis de cantar. Se tiver dois ou três sopros já posso ir buscar um arranjo dos Jazz Messengers, mas tento que seja um repertório relativamente variado, tendo por exemplo dois ou três standards com andamento médio, uma balada ou duas, um tema mais rápido, um tema mais latino, um tema mais modal; uma coisa variada para abranger os vários estilos e abordagens.

JNPDI!: Qual é o nível musical dos alunos?

BS: O nível geral é médio. As excepções são os melhores alunos.

JNPDI!: Dos alunos que já tiveste até hoje há algum que te tenha impressionado mais e em quem deposites maior esperança?

BS: Há o João Firmino, que é um aluno que foi estudar para a Holanda e que me surpreendeu porque teve uma evolução muito rápida e, além de ser muito talentoso e muito trabalhador, tem uma maturidade fora do normal para a idade que tem e para a pouca experiência que leva a tocar. E o mais importante é que é um guitarrista com um alto sentido musical, que é uma coisa difícil de explicar, mas que se percebe... É daquelas coisas que não é para todos, independentemente da quantidade de trabalho. Tenho grande confiança em que ele vai ser um guitarrista de altíssimo nível.

Dscn1440.jpg
Hot Clube, Junho 2005
Foto de João Moreira dos Santos

JNPDI!: Tu próprio vens de uma geração de excelentes guitarristas composta por ti, pelo André Fernandes, Afonso Pais, Nuno Ferreira... Como explicas que apesar da pequena dimensão do país surjam de repente "tantos" e tão bons instrumentistas?

BS: Eu acho que o percurso é todo muito parecido com a maioria dos guitarristas: começar a tocar rock e depois decidir aprofundar os conhecimentos da guitarra e os conhecimentos musicais, mais virados para a cena jazzística. E acho que as referências da geração anterior de guitarristas portugueses, o Pedro Madaleno e o Mário Delgado, fizeram bastante pela guitarra e acho que isso teve alguma influência; olhar para cima e ver o Mário Delgado e o Pedro Madaleno a um determinado nível e ter que chegar a esse nível para conseguir furar. E depois somos tantos guitarristas que tem de haver sempre quatro ou cinco a tocar a muito bom nível porque existe concorrência, saudável, mas existe.

JNPDI!: Quais são as tuas referências em guitarristas de Jazz estrangeiros?

BS: Dos mais antigos, o Wes Mongomery e o Jim Hall são claramente os que mais gosto. Depois, mais recentes, o Peter Bernstein, o Kurt Rosenwinkel, o Pat Metheny. Com mais ligações ao rock, e apesar de conhecer menos, o John Scofield.

JNPDI!: E sem ser guitarristas o que gostas de ouvir em termos de jazz?

BS: No meu processo de aprendizagem ouvi e continuo a ouvir vários instrumentos, mas provavelmente a minha formação favorita é o trio de piano ou o trio de guitarra, uma formação que gosto muito de ouvir, com músicos como o Herbie Hancock, o Bill Evans ou o Keith Jarrett. Depois, noutro tipo de formação, o John Coltrane, claro, o Miles Davis, o Joe Henderson... Enfim, há uma série de músicos, não só pianistas, que me influenciaram e continuam a influenciar.

JNPDI!: De todos os concertos a que já assististe, qual o que mais te impressionou positivamente?

BS: Vi há uns seis anos, no Seixal Jazz, o Jim Hall com o Joe Lovano e o Dave Holland. Fiquei impressionado especialmente com um tema a solo do Jim Hall, uma balada do Duke Ellington que ele tocou quase acústico, com o som da guitarra no mínimo. Fiquei impressionado com a qualidade do som e com o bom gosto.

JNPDI!: E guitarristas como o Django Reinhardt, dizem-te alguma coisa?

BS: Numa primeira fase ouvi muito o Django Reinhardt e é impressionante o que ele faz, mas não é um estilo com que me sinta muito identificado. É incrível a maneira como ele tocava e também foi muito inovador.

JNPDI!: Em termos de jazz se tivesses de eleger um músico favorito quem seria o teu ou a tua eleita?

BS: É uma pergunta que tem uma resposta difícil, apesar de eu já ter pensado nisso. Do Herbie Hancock e do Wayne Shorter escolheria um, não só pelos músicos que são, mas também pelo aspecto da composição. O Wayne Shorter é um compositor fora de série. Como músico e naquele aspecto de improvisador, que é a parte que mais me fascina, se calhar o Herbie Hancock é o improvisador mais incrível que eu ouvi e basta-me ouvir aqueles seis/sete anos do quinteto do Miles e não preciso de o ouvir mais para ficar absolutamente abismado com a fluidez da sua música.

JNPDI!: Musicalmente como te definirias?

BS: Eu gosto de pensar que sou relativamente versátil, até porque gosto de ouvir coisas muito distintas. Para tocar em qualquer grupo só há uma coisa que eu "peço": que a música seja boa, independentemente do estilo. Por exemplo, actualmente estou a tocar um repertório mais tradicional no trio de Filipe Melo, que me dá imenso gozo, e depois estou a tocar, como tive oportunidade de fazer nas últimas duas semanas, no grupo da Paula Oliveira e do Bernardo Moreira, com outro estilo completamente diferente em que não há swing, mas dá-me imenso gozo na mesma porque a música é boa. Portanto, gosto de pensar que sou ou tento ser versátil.

DSCN2677-1.jpg
Com o Trio de Filpe Melo, Setembro 2005.
Foto de João Moreira dos Santos

JNPDI!: E musicalmente onde te vês daqui a 10 anos?

BS: Aquilo que me dá mais gozo fazer é tocar. Daqui a 10 anos espero poder estar a participar em vários projectos, como estou agora, e poder ter o meu próprio projecto um pouco mais cimentado.

JNPDI!: Achas que neste momento Portugal é um bom país para se ser músico de Jazz?

BS: Acho que sim, honestamente. É óbvio que todos os músicos desejariam estar a tocar mais... É um bom país em comparação àquilo que se passa no resto do mundo. De vez em quando temos contacto com músicos que vêm de fora, americanos e não só, e que se queixam de ter pouco trabalho lá e estão cá duas ou três semanas a tocar e dizem que isto aqui é incrível por que há imensa actividade e muita gente a tocar.

JNPDI!: Qual é neste momento o motor para o desenvolvimento do Jazz em Portugal?

BS: Acho que o motor continua a ser o Hot Clube, pelo menos em Lisboa e arredores, porque é um ponto de referência, a escola mais importante ainda continua a ser a do Hot e os alunos vão todos lá parar e começam aí e a grande percentagem dos músicos profissionais passou por lá como aluno ou como músico profissional, nas jam-sessions ou em concertos.

JNPDI!: E há um circuito para o Jazz ao vivo neste momento?

BS: Há o circuito de bares e de clubes que não é muito grande e se esgota rapidamente. Depois há o circuito dos festivais e de grandes salas, dos auditórios e teatros, que está mais relacionado com as câmaras municipais e que é um circuito um bocadinho mais fechado.

JNPDI!: Mais fechado em que sentido?

BS: Onde passam os projectos mais sólidos ou mais antigos. Está um bocadinho dominado por este tipo de projectos. Não digo isto no sentido crítico, acho é que podia haver abertura para grupos mais novos, até por uma questão de pensar a médio/longo prazo.

JNPDI!: E em termos de divulgação, o que achas que faz falta para dar mais apoio aos jazzmen portugueses e aos seus discos?

BS: Acho que faz falta algum apoio. Temos o caso, por exemplo, do disco da Paula Oliveira com o Bernardo Moreira, que é um excelente disco, mas que teve um grande apoio de uma máquina de publicidade muito grande, que faz toda a diferença, como é óbvio. O disco podia ser muito bom, mas se ninguém o conhecesse? Faz falta o apoio e o querer arriscar em publicitar uma coisa que tem qualidade.

JNPDI!: E quem é que podia fazer esse trabalho?

BS: Se calhar, para começar, as editoras, pegando em grupos novos e em música de qualidade e investindo na publicidade, porque já se viu que esse é o grande trunfo para o sucesso. Aliás, se calhar essa é a justificação para que intérpretes de tão baixa qualidade tenham tanto anos de sucesso, por que as pessoas são constantemente bombardeadas com publicidade... Já agora por que não fazer o mesmo com música de qualidade?

wrongwayimage.jpg

JNPDI!: Por falar em publicidade e divulgação, achas que o teu primeiro disco, o Wrong Way, que lançaste em 2005, podia passar na rádio?

BS: Acho que sim. É um disco acessível, acho eu, no sentido que segue ainda uma linha mais tradicional, se bem que são temas com outro tipo de formas e outro tipo de acordes, mas que ainda seguem um pouco esse espírito.

JNPDI!: Como é que surgiu este projecto?

BS: Reuni o grupo [Jorge Reis, Nelson Cascais e Bruno Pedroso] em 2001/2002, um pouco por acaso porque apareceram um ou dois concertos. Depois de ter escrito a música e de a termos tocado achei que a coisa resultava bem, que nós combinávamos bem e nos sentíamos bem a tocar aquela música e, antes que ela se esgotasse, perguntei ao André Fernandes [Tone of a Pitch - TOAP] se ele estaria interessado em editar o disco e então gravámos num bar, no Projecto Jazz, em Pombal.

JNPDI!: Em Fevereiro de 2007 vais lançar um novo disco, novamente na TOAP. Já tem título?

BS: Talvez Submerso, que é uma das faixas.

JNPDI!: Todos temas teus?

BS: Sim, exacto.

JNPDI!: Com o mesmo grupo do Wrong Way?

BS: Não, agora é uma formação mais pequena, em trio, com o Bruno Pedroso e o Bernardo Moreira.

DSC03836.jpg
Na Madeira, com Bernardo Moreira e Bruno Pedroso, durante a gravação do mais recente CD.

JNPDI!: Tu, aliás, tens gravado bastante. Só em 2005, além do teu próprio projecto gravaste o Debut, com o trio do Filipe Melo, o Lisboa que adormece, com o Bernardo Moreira e a Paula Oliveira, o Joana Rios canta Ella Fitzgerald ao vivo no Hot Clube e ainda o Tender Trap, da Marta Hugon. Começas a ser um guitarrista muito solicitado...

BS: Houve de facto um período de um ano e meio em que os projectos em que eu estava a tocar gravaram todos. O último que gravei foi o Ode to Chet, do Laurent Filipe. Acho que isso tem também a ver com o facto de agora ser mais fácil gravar e editar discos de jazz. Há mais editoras a apostar, curiosamente. O disco do Laurent é da Som Livre, o do Bernardo é da Universal e depois há a editora do André Fernandes [TOAP], que permitiu que muitos projectos fossem conhecidos e ficassem registados.

JNPDI!: Quantas horas tens de praticar diariamente para seres um guitarrista com a qualidade que te impões?

BS: Na fase de estudante, no Hot, praticava há volta de 5/6 horas por dia. Agora que tenho os dias mais ocupados, com as aulas, os ensaios e os concertos, se pratico um pouco menos também me sinto em forma quando tenho muita actividade de ensaios e concertos. Uma hora de concerto equivale a muitas horas de estudo porque é uma coisa muito mais intensa.

JNPDI!: Tu vives só da música, de dar aulas e tocar...

BS: Só.

JNPDI!: E dá para viver em Portugal sendo músico de jazz?

BS: Vai dando? Até agora deu e espero que continue a dar, mas é um tipo de trabalho que traz alguma insegurança porque há meses muito bons, mas depois há meses em que não se passa nada. Os meses de Agosto e Janeiro costumam ser meses bastante fracos. Eu acredito que dá desde que haja um mínimo de competência.

JNPDI!: Sendo tu um expert na guitarra que discos, num máximo de cinco, aconselharias a um leitor do JNPDI! que quisesse ter em casa bons embaixadores deste instrumento?

BS: Logo como número um coloco o Smokin? at the Half Note [Ed. Verve, 1965], com o trio do Wynton Kelly e o Wes Montgomery. É um excelente disco.

B0006VXF4G.01._AA240_SCLZZZZZZZ_.jpg

Depois, um disco do Jim Hall, que se chama Live [Ed. Horizon, 1976], um trio com Don Thompson (contrabaixo) e Terry Clarke (bateria).

B000BR2OOC.01._AA240_SCLZZZZZZZ_.jpg

Há mais um disco do Wes Montgomery que eu aconselharia, que é o Full House [Ed. Riverside/OJC, 1965].

B000000Y6B.01._AA240_SCLZZZZZZZ_.jpg

Há um outro excelente disco, do Chris Cheek com o Kurt Rosenwinkel: I Wish I Knew [Ed. Fresh Sound, 1997].

B000024X3D.01._AA240_SCLZZZZZZZ_.jpg

Se calhar aconselharia o Signs of Life [Ed. Criss Cross, 1995], do Peter Bernstein com o Brad Melhldau.

B0000020NJ.01._AA130_SCMZZZZZZZ_V1056631118_.jpg

Tenho pena de deixar um de fora, o The Incredible Jazz Guitar of Wes Montgomery [Ed. Riverside/OJC, 1960], com o Tommy Flanagan. Não é fácil escolher cinco...

B000000Y27.01._AA240_SCLZZZZZZZ_V41384548_.jpg


Discografia completa:

Como líder

Bruno Santos, Wrong Way (TOAP, 2005)

Como sideman

Hugo Alves, Estranha Natureza (Ed. do autor, 2003)
Bernardo Moreira e Paula Oliveira, Lisboa que Amanhece (Universal, 2005)
Joana Rios, Joana Rios Canta Ella Fitzgerald (TOAP, 2005)
Trio de Filipe Melo, Debut (Clean Feed, 2005)
Marta Hugon, Tender Trap (Som Livre, 2005)
Laurent Filipe, Ode to Chet (Som Livre, 2006)

Website: www.brunomfsantos.com


Site Meter Powered by Blogger