30 de março de 2004

Eu, Miles Davis e os sapatos pele de crocodilo

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Ora aqui vai a estória do encontro com um dos meus ídolos, Miles Davis.

Estavamos em 1991 e tinha acabado de ler/devorar/viver a sua autobiografia. Lembro-me de ir para as aulas de comunicação e marketing e de estar a ouvir os seus solos na minha mente, enquanto os professores peroravam sobre algo de que não me lembro já.

Tornei-me, então, assíduo frequentador da megastore da Valentim de Carvalho no Rossio e esgotei praticamente todo o stock de discos de Miles Davis, sobretudo dos anos 50/60.

Eis quando surge a notícia de que Miles em pessoa tocaria no Coliseu dos Recreios. Nem pensei duas vezes, dirigi-me à bilheteira e troquei 5 valiosos contos por um precioso lugar na primeira fila.

O concerto foi fenomenal, embora de jazz pouco ou nada tivesse. Mas tinha Miles e tinha-o ao seu melhor. Absorvi tudo: a música, o cenário (desenhado por ele mesmo), os seus gestos, os tiques, a forma como anunciava os músicos levantando um cartaz branco com o seu nome escrito a negro.

No fim, deixei-me ficar a absorver ainda o ambiente da sala e quando saí vi-o partir num Mercedes preto, rodeado de centenas de fans. Não disse uma palavra nem fez um aceno de mão sequer. Partiu à Miles Davis, em silêncio. O discurso tinha sido lá dentro no Coliseu. Ele, o mago do trompete, nada mais tinha a acrescentar.

Isto passou-se em Março e algo me dizia que ele não mais voltaria a Portugal. Foi então que decidi ir esperá-lo ao hotel. A inclusão do Tivoli na lista de patrocinadores do concerto fez-me suspeitar de que ele estaria por lá instalado e por isso no dia seguinte, logo pela manhã, baldei-me às aulas e plantei-me cá fora na entrada do dito hotel.

8h30, em sentido, olhos bem abertos. E esperei.

Mas, não desesperei, passados alguns instantes saía pela porta principal aquela figura de que eu sabia praticamente toda a vida pela autobiografia que acabara de ler pela enésima vez. De repente, ele já não era apenas um conjunto de letras, linhas, pensamentos e notas. Era ele mesmo, ali à minha frente em carne e osso. O mito adquiria forma.

Lembro-me que o que mais me impressionou foram uns sapatos pele de crocodilo que ele usava. Não sei porquê, mas a verdade é que nunca mais me sairam da cabeça. Eram uns sapatos rasos, pretos. Depois havia aquela farta cabeleira, provavelmente postiça.

Do que tinha lido sobre ele e do que se falava, não me atrevi a tirar do bolso um dos seus discos e 'sacar' um autógrafo. Limitei-me a vê-lo partir num simples táxi.

Mais tarde, por casualidade, soube que uma amiga minha médica tinha viajado ao seu lado no avião para a Alemanha. Ela estava com gripe e não parava de se contorcer, ao que ele lhe perguntou se ela estava incomodada por viajar ao lado de um negro? Típico do Miles. Ela respondeu que não, que sabia muito bem quem ele era e que adorava jazz e especialmente a obra dele.

Teve mais sorte do que eu, mas eu já me considero sortudo por ter tido oportunidade de ter estado ali a dois passos do músico que mais admirei e admiro.

Já agora, passem pelo site oficial do Miles e vejam a espantosa fotografia de entrada (um conselho, não entrem logo. Aguardem uns segundos e vejam a transformação cromática).

É assim que me lembro dele e foi assim que o vi pela última vez.

Morreu poucos meses depois, em Setembro.

Jazz em saldos no Carrefour de Oeiras

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Atenção a quem anda à procura de pechinchas!

O Carrefour de Oeiras, localizado no Oeiras Parque, está a vender algum do seu catálogo de jazz a 5 euros. A oferta não é muito diversificada mas inclui McCoy Tyner, John Coltrane, Charles Mingus, McLaughlin/Meola/Lucia, Coleman Hawkins e alguns mais.

E se puder e quiser, aproveite e passe e passeie pelo Parque dos Poetas (vale a pena a visita, sobretudo num bom dia de Sol) ou pelo Palácio dos Marqueses de Pombal (na foto).

Já agora, aqui fica um recado, à Fernando Pessa, para a Sra. Presidente da Câmara Municipal de Oeiras: faça um favor aos seus munícipes e aos turistas (nacionais ou estrangeiros) e mande actualizar o site, colocando lá informação sobre o Parque dos Poetas, que é uma obra de V. Exas.

28 de março de 2004

Mais Mezzo, mais uma semana, mais Jazz!

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Domingo - 28/3

00:25 Mezzo Archive - On The Road With Bob Berg
01:20 Louie Bellson Big Band

2.ª - 29/3

00:00 Mezzo Archive - Chicago Improvisations
01:30 Chick Corea Remember Bud Powell
19:50 Classic Jazz - Jazz At Marciac 2003; Pat Metheny
20:50 Jazz Memories - From Bop To Soul
21:50 Jazz Clubbin' - New Morning's Live; Leyanis Lopez
22:50 Tribute To Duke, Ella And The Others

3.ª - 30/3

01:20 Joe Henderson Quartet
22:05 Jazz Clubbin' - Lagrène & Christian Escoudé Invited By Trio Rosenberg Birelli
23:00 Joshua Redman Quartet

4.ª - 31/3


21:50 Jazz Clubbin' - Pat Metheny; Jazz At Marciac 2003
22:50 Roy Ayers

5.ª - 1/4

14:00 Classic Jazz - Wynton Marsalis With The Lincoln Center
15:05 100 Years Of Jazz Memory - New York City
21:55 Jazz Clubbin' - Chicago Improvisations
23:20 Live At The New Morning, 2002 - Leyanis Lopez

6.ª - 2/4

22:05 Jazz Clubbin' - Shemekia Copeland Blues Band; Blues Session 1
23:05 Pat Metheny

Sábado - 3/4

17:00 Classic Jazz - Pat Metheny; Jazz In Marciac 2003
18:00 Jazz Memory - From Be Bop To Soul

[foto: Joe Henderson]

Circuito do Jazz Lisboeta dos Anos 20/40

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Acabado de chegar a casa vindo de um passeio à Baixa Pombalina, organizado pelo Centro Nacional de Cultura, tive uma ideia que aproveito para partilhar aqui e ouvir sugestões e opiniões.

Dado o acervo que tenho vindo a reunir para o meu livro sobre a história do jazz em Portugal, é-me agora possível organizar um circuito pelo jazz dos anos 20/40 em Lisboa, nomeadamente no que se refere a clubes e locais por onde passaram músicos, tocaram, etc... Um passeio de um dia, com direito a almoçar no restaurante onde almoçou Josephine Baker (que ainda hoje lá guarda a sua fotografia) ou a orquestra de Count Basie.

Acho que vou começar a desenhar um circuito...

27 de março de 2004

Diana Krall no Funchal

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Se este site fosse kitsch poderíamos colocar um post do género: «No Jardim que é a Madeira, faltava apenas a flor sagrada do smooth-jazz: Diana Krall».

Mas não é!

E também não me apetece mesmo nada falar deste concerto de Diana Krall no Funchal. Não porque não.

Por isso vou fazer antes um exercício: tentar perceber como os diferentes jornais nacionais e algumas revistas poderiam titular este simples facto: Diana Krall canta no Funchal hoje, 27 de Março.

«24 Horas»
Diana Krall no funchal sem Elvis
Cantora desembarcou sózinha e com ar triste

«Diário de Notícias da Madeira»
Jardim traz Krall ao Funchal

«A Capital»
Diana Krall canta e encanta no Funchal

«Correio da Manhã»
Rainha do Jazz na Pérola do Atlântico

«O Independente»
Diana Krall no Funchal paga por Lisboa

«Expresso»

Suplemento Diana Krall
Suplemento Diana Krall e a informática na madeira
Suplemento Diana Krall e o golfe na madeira
Suplemento Diana Krall e a educação na madeira
Suplemente Diana Krall e o imobiliário na madeira
Suplemento Diana Krall e electrodomésticos na madeira


«Caras»
Diana Krall perdeu anel no aeroporto

«VIP»
Diana Krall rompe com Costello

«Maria»
Diana Krall a nu: tudo sobre a mulher de Costello

Sentido proibido para a cultura em Portugal

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Tem sido notícia corrente nos jornais nacionais a estória sobre um talentoso pianista português que, à falta de apoios e não dispondo de um piano para ensaiar, utiliza uma vulgar mesa para praticar, fingindo ser um piano.

Também o jazz conheceu uma estória semelhante quando numa sessão com Charlie Parker o baterista de serviço, à falta de uma bateria convencional, utilizou uma vulgar lista telefónica como ‘instrumento de percussão’. E assim se gravou um disco.

Estórias semelhantes... sim, mas a primeira passa-se no século XXI e a segunda na primeira metade do século XX...

Depois ainda se admiram que cada vez nasçam menos portugueses... Pudera! Quem é o masoquista que quer nascer no país do eterno improviso e adiado destino, onde a cultura é um luxo que se paga caro (ó iva ó ai!! repim pim pim, pirim pim pum) e a educação um verbo que conjuga no passado dum presente em que só o futebol parece ter $?

O que nos vale é que há talentos como o do jovem pianista Filipe Melo - cuja entrevista a Rita Ferro Rodrigues recomendo vivamente (SIC Notícias) - capazes de arriscar e lutar contra a mediocridade e contra todas as dificuldades de um país e de uma Administração Pública que olham o cidadão do alto púlpito do sadismo burocraticamente institucionalizado e cujos chicotes apenas poupam as clientelas e os interesses não públicos.

Talvez não os consigamos é segurar por cá por muito tempo... vide caso Maria João Pires e Belgais.

Jan Garbarek, até que enfim em Lisboa!

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Caros amigos, esta é a notícia por que todos esperávamos (ou pelo menos , muitos de nós), Jan Garbarek regressa a Lisboa, já em Maio, para dois concertos no CCB.

Quem me deu a notícia foi a Margarida, habitual frequentadora deste modesto blog, e o site do CCB confirma.

Nos dias 13 e 14 de Maio, às 21h00, o grupo deste super saxofonista estará no Grande Auditório. Eu, que faço anos a 12, já tenho a minha prenda! Há anos que ambiciono e desespero por ver Garbarek ao vivo entre nós, depois daquele mítico concerto no Jazz em Agosto, nos idos de 80, que tantas vezes vejo e revejo em vídeo.

Com Jan Garbarek vêm o contrabaixista Eberhard Weber (um seu companheiro desde longa data), o pianista Rainer Brüninghaus e a percussão de Marilyn Mazur.

24 de março de 2004

Se não foi ontem, vá hoje!

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Se não foi ontem ao Hot Club, vá hoje que ainda vai a tempo! É que está lá 'à solta' uma autêntica fera do saxofone tenor, com um som arrasador, especialmente nos graves, que dá pelo nome de Art Themen. O trio que o acompanha é o do cada vez melhor Rodrigo Gonçalves (piano), com Nelson Cascais no contrabaixo e Bruno Pedroso na bateria.

Ontem ouviram-se autênticas pérolas, como «I Mean You», «All the Things You Are», «Body and Soul», «Recorda-me» e «Five Bananas».

E, atenção, que hoje ainda vai ser melhor. É que Art Themen chegou ontem ao final da tarde a Lisboa, vindo de Inglaterra, ensaiou meia dúzia de minutos com o trio e toca de ir para o palco. Portanto, hoje à noite o trio já está mais rodado e vão corrigir-se algumas pequenas falhas, sobretudo na bateria, por vezes um pouco perdida no conhecimento dos temas.

Quanto a Art Themen, é um senhor, um exemplo de humildade e dedicação à música e a quem a ouve e o ouve. É médico, ortopedista e neurocirurgião, trata de borla todos os músicos de jazz que o procurem no seu consultório e traz consigo um novíssimo saxofone que, por si só, é um espanto em termos de estética. Ao que soube, foi-lhe recomendado por Joe Lovano, depois de o seu saxofone habitual ter sido roubado juntamente com o seu Mercedes, na véspera de Themen vir para Portugal... O Mercedes já apareceu, mas o saxofone já era. Deviam ser uns mânfios muito apreciadores de jazz!

23 de março de 2004

A nova morada de Hugo Alves

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Hugo Alves, conhecido trompetista de jazz natural de Lagos, no Algarve, tem um novo endereço electrónico: http://hugoalvesjazz.no.sapo.pt/index.htm

Hugo Alves lançou recentemente o CD "Estranha Natureza", disco com liner notes de José Duarte e que infelizmente ainda não nos chegou para podermos aqui dar a nossa opinião, creio, pelo que já li, muito positiva.

21 de março de 2004

A não perder, esta semana, no Mezzo

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Esta semana há, como sempre, jazz no Mezzo e do bom!

jaZZ e meZZo são bos amigos.

2a. Feira - 22 de Março de 2004

00:20 Mezzo Archive: Tribute To Duke, Ella And The Others
01:10 Keith Jarrett Trio
19:50 Classic Jazz: Lincoln Center Jazz Orchestra; Wynton Marsalis
21:50 Jazz Clubbin': Tomatito And His Band

3a. Feira - 23 de Março de 2004

21:50 Jazz Clubbin': Chicago Improvisations
23:15 On The Road With Bob Berg

4a. Feira - 24 de Março de 2004

22:00 Jazz Clubbin': Lincoln Center Jazz Orchestra, Wynton Marsalis
22:50 Hancock, Carter & Cobham

5a. Feira - 25 de Março de 2004

02:00 Barney Kessel Trio
14:00 Classic Jazz: Didier Loockwood live in Marciac 2002
15:00 100 Years Of Jazz Memories: The Travelers Without Luggage; Parte 2
21:50 Jazz Clubbin': Tribute To Duke, Ella And The Others
22:50 Tomatito And His Band

6a. Feira - 26 de Março de 2004

01:25 Abdullah Ibrahim
21:50 Jazz Clubbin': Joshua Redman Quartet

Sábado - 27 de Março de 2004

01:30 Jane Bunnett, Hilario Duran - Cuban Jazz
17:00 Classic Jazz: Lincoln Center Jazz Orchestra; Wynton Marsalis
18:05 100 Years Of Jazz Memories: New York City; Parte 3

A RTP2, ou a 2, podia ser assim um género de Mezzo, um canal para as artes e para a cultura, nomeadamente o jazz. Até porque a RTP tem um rico espólio dos tempos do Cascais e do Estoril Jazz, etc....

20 de março de 2004

Duarte Mendonça celebra, no HOT, 30 anos de produção de jazz

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Duarte Mendonça, o mais antigo produtor de jazz em Portugal ainda em actividade, vai ser homenageado no próximo dia 23 de Março, pelas 23h00, no Hot Club de Portugal , através de um concerto protagonizado por alguns dos mais destacados músicos de jazz portugueses e pelo conceituado saxofonista inglês Art Themen. Este evento pretende assinalar os 30 anos de actividade profissional do homenageado.

Duarte Mendonça, iniciou-se na produção do jazz ao lado Luís Villas-Boas, no Cascais Jazz 1974, e não mais cessou, tendo contribuído para a democratização desta linguagem musical e para a sua institucionalização como forma de arte e cultura. Um percurso que acompanhou todo o processo de democratização política do país e que, apesar de todas as mutações e incertezas no contexto político, social e económico, nunca o impediu de divulgar aquela que considera «a melhor música do mundo»: o jazz.

Depois do Cascais Jazz, Duarte Mendonça criou o Jazz Num Dia de Verão (1982), o Jazz na Primavera, o Estoril Jazz (1989) e o Galp Jazz (1988), para além de vários concertos organizados em estreita colaboração com o Casino do Estoril e inúmeras colaborações na década de 90 com instituições como o CCB, (desde 1993), a Culturgest (1994) e os festivais Angra Jazz, Matosinhos em Jazz e Guimarães Jazz.

Ao longo destes 30 anos, Duarte Mendonça trouxe a Portugal em estreia absoluta a nata dos jazzmen internacionais, um extenso elenco de mais de 1000 músicos e que inclui Dexter Gordon, Sonny Stitt, Dizzy Gillespie, Charlie Mingus, Freddie Hubbard, Thad Jones/Mel Lewis Orchestra, Betty Carter, Chet Baker, Wynton Marsalis, Joe Henderson, Horace Silver, Carmen Mc Rae, Benny Golson/Art Farmer Jazztet, Stephane Grappelli, Bill Evans, Marian Mc Partland, Wynton Marsalis, Betty Carter e Art Blakey (cujo concerto no Terreiro do Paço, em 1979, celebrou então o 5.º aniversário do 25 de Abril), Modern Jazz Quartet, Dave Holland, Sonny Rollins ou Frank Sinatra Jr.

Estruturalmente, Duarte Mendonça tem pautado as suas produções e os seus festivais por um princípio consistente: não repetir os músicos. É assim que tem contribuído para revelar novos talentos como, por exemplo, Diana Krall, vinda a Portugal em 1996, quando era ainda uma ilustre desconhecida, mesmo a nível internacional. Além disso, o homenageado investiu ainda no desenvolvimento dos músicos de jazz portugueses, tendo criado os I e II Cursos Internacionais Projazz, em 1990 e 1991, os quais contaram com autênticos professores de luxo, que eram/são autênticas lendas vivas do jazz: Clark Terry, Kenny Burrell, Rufus Reid, Bobby Watson, Sir Roland Hanna, Kenny Washington, Reggie Workman, Alan Dawson, Barney Kessell, Hal Galper, Billy Pierce e Terence Blanchard.

Mais do que uma carreira profissional, o jazz é para Duarte Mendonça uma verdadeira paixão, à qual está ligado desde 1946, quando aos 15 anos de idade descobriu os primeiros discos e as primeiras crónicas em revistas estrangeiras. Desde então, tem sido um fervoroso coleccionador de discos, possuindo actualmente uma colecção de mais de 13000 álbuns, para além de centenas de livros e revistas; um autêntico museu particular.

Duarte Manuel Sarmento de Mendonça nasceu em 1931, em Lisboa, e em 1996 foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural pelo Município de Cascais.

17 de março de 2004

Kind of funny

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E ainda dizem que o jazz não vende...

«Kind of Blue» ocupa um honroso 167 lugar no top de vendas da Amazon, loja de referência nas vendas on-line.

Aqui está a transcrição para quem duvida: Amazon.com Sales Rank: 167

É evidente que se trata de um disco mítico e de chaneira do jazz, mas ainda assim não deixa de ser notável.

Já agora, faz agora em Março 45 anos que foram realizadas as suas duas sessões de gravação, em Março e Abril de 1959.

Voltarei em breve a este assunto. Para já direi apenas que o piano que serviu a Bill Evans e Wynton Kelly nesta obra ainda hoje existe e está ao serviço de um outro estúdio em NYC.

16 de março de 2004

A Poezzia do Jazz na língua de Camões

Está aí a rebentar uma antologia do jazz na poesia portuguesa, obra de José Duarte, publicada pela Almedina.

Os poemas vão de Bandeira e Drummond a Craveirinha e Neto, passando por Haterly, Almada Negreiros (que chegou a fazer crítica musical os anos 20, embora não de jazz), Tolentino, Grade, Herberto, Pacheco. Ao todo, são quase uma centena de poetas.

A não perder, certamente!

14 de março de 2004

A saga do jazz...

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Confesso desde já que adoro este tipo de projectos que recuperam os velhinhos discos e temas e os embalam em atraentes embalagens temáticas que apetece comprar como quem compra um pedacinho de história perdida nos confins do tempo.

A editora Saga, uma produtora independente da terra de Astérix e Obélix, tem no mercado uma vastíssima colecção de registos com alguns dos músicos históricos do jazz, desde Jelly Roll Morton a Ella Fitzgerald.

A ideia foi criar uma colecção com motivos temáticos, tal como se depreende das próprias palavras da editora:

It’s always a good idea to remember that jazz, together with the cinema, has been the major form of artistic expression for the past hundred years. The intention of “Saga Jazz” is to relate its history, and explore it in a new, original way.

Seen from a different angle, its historic figures can now be rediscovered, and in this journey through jazz-land we are also accompanied by albums that are thematic, dealing with subjects as serious as styles, instruments, the repertoire, humour, love, dancing, trains and cats… This approach allows us to learn boogie woogie, stride piano the way it was played by Fats Waller (another volume features his solo playing), bebop piano and its own historic figures, from Bud Powell to Al Haig, Latin jazz and its origins, the acoustic guitar, and how to make a big-band swing.


Do vasto catálogo da editora escolhi o disco de Cab Calloway, cantor que admiro e que ainda hoje me encanta (em disco) pela sua criatividade e alegria de cantar. Ele inventou todo um vocabulário para o scat singing que ficou para história. Tocou em Portugal, no Coliseu, poucos anos antes de morrer. Eu vi e gostei, claro.

Esta colecção está à venda na FNAC do Colombo, na secção de promoções, por pouco mais de 5,00 euros.

11 de março de 2004

A Norah e a sograh não se entendem

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A Norah, aquela jovem dita Jones, e a sograh definitivamente não se entendem.

Questão de inveja, ao que parece. Mas no fundo é tudo uma questão de números.

É que enquanto «Feels like home» já é disco de ouro em Portugal ao fim de 4 semanas, os discos da sograh, dita jazz, raramente vão além das 200 unidades por disco.

O pior é que a Sograh diz que ela é que criou a linguagem e o género musical e que já cá anda há mais de 100 anos e não está agora para se ver ultrapassada pela jovem Norah... que ainda por cima de jazz pouco tem e musicalmente pouco se esforça.

Ao que «Jazz no País do Improviso!» apurou, a Sograh terá pelo menos exigido à Norah que lançasse o terceiro disco o mais brevemente possível para não ter, como sucedeu com o primeiro, de ouvir este segundo passar nas rádios até à náusea!

E já mandou dizer que se a Norah se sente como em casa, um dia destes ainda é capaz de a pôr a andar!

A hora mágica

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Definitivamente, quem é quem no jazz acaba por passar mais tarde ou mais cedo pela célebre editora Blue Note.

Desta vez, estreia-se Wynton Marsalis, com «The Magic Hour», o novo CD deste genial compositor e trompetista dos tempos modernos.

«Jazz no País do Improviso ainda não ouviu o dito disco mas dará nota da sua opinião em breve, aqui ou na «All Jazz».

9 de março de 2004

Crónica do dia em que o jazz morreu

Lisboa, 2006

José Rodrigues dos Prantos dá a notícia na RTP, «O jazz morreu ontem, aos 106 anos de idade, vítima de morte súbita, e a RTP mostra-lhe tudo». Enquanto passa a reportagem Prantos grita para a régie «Eh pá, quem é o gajo que morreu que não está aqui nada no teleponto sobre ele?!». «É o que dá cortar custos a direito... agora até nas palavras poupam».

Na TVI, uma peça que se repete de 5 em 5 minuntos no Jornal Nacional anuncia: «O jazz morreu mas ainda se faz ouvir. Não perca já a seguir em exclusivo na TVI uma entrevista com o espírito do defunto».

Na SIC, o «Trombas Notícias» informa: «O Jazz morreu. Sofia Cardeira mostra-lhe em exclusivo os vestidos que os VIP vão usar no funeral». Durante o programa alguns VIP dizem das suas. Isabel Amendoeira comenta: «Calha-me imensamente mal que tenha sido hoje porque, sabe, é o meu dia de ir ao cabeleireiro e fazer umas compras, porque eu tenho uma vida muito atarefada, mais do que o comum dos mortais». Paula Trombone comenta em tom crítico: «Sabe, o jazz, essa música de pretos, praticamente vinda das cavernas, não me diz muito, é pouco educada, pouco polida. Mas enfim, é um acto social e portanto lá estarei. Agora, sabe, não é socialmente correcto morrer sem avisar por escrito os convidados para o funeral... É uma questão de chá e realmente a música clássica nisso é um autêntico serviço completo. E Vista Alegre!». Já Kiki Buraca afiança com a sua suprema sabedoria: «Estou profundamente triste porque, sabe, o jazz nasceu aqui em Cascais e era convidado regular de casa, praticamente da famíliaaaaaaaa. E depois eu própria podia ter sido uma jazzwoman, como a Ella Fitzgerald, só que não gostava muito de estar em casa...». A rematar, José Pastel Negro afirma: «Pronto, eu não posso dizer que gostasse muito de jézz mas sabe que tínhamos muito em comum. É que por exemplo o Charlie Haden também teve problemas no aeroporto e nesse sentido identifico-me imenso. E assim sempre posso estrear a minha echarpe da Dior!.

No jornal «25 horas» o jazz é manchete: «Ministra mata jazz por asfixia!». No interior um jornalista distraído, informa: «O jazz morreu hoje, estando presumivelmente morto».

Entretanto, no Governo instala-se o pânico. O que fazer com o defunto?

O Primeiro Ministro, um tal de Paulo Janelas, chama ao gabinete a nova Ministra da Cultura, uma tal de Manuela Ferve o Leite, despromovida ao falhar a redução do deficit.

- Descula lá, Manela, mas tu é que tens de resolver isto. Tu é que o asfixiaste ao cortar-lhe os subsídios e portanto agora atura tu essa cambada de jazzómanos comunistas que não me larga!.

De regresso ao Palácio da Ajuda, a mal amada Ministra reune-se com o assessor de imprensa:

- Olhe lá, o que é que acha de o enterrarmos numa vala comum, afinal era uma música do povo e ainda poupávamos um dinheirão, que neste país não se pode nem morrer!
- Senhora Ministra, com sua licença e sem querer ofender, mas permita-me contrariar. É que já ligou para aqui um tal de Jazzé Duarte a exigir o panteão nacional...
- Mas quem é esse?
- Diz que tem um programa de rádio há 40 anos e que se o jazz não for para o panteão ele corta as barbas e há-de fazer com que a senhora Ministra as engula, se me permite reproduzir as palavras dele...
- Francamente! O panteão é para a cultura portuguesa; É onde está a Amália. É um local sagrado.
- Pois, tem toda a razão senhora Ministra, mas os amantes do jazz alegam que também lá pusemos o lançamento do Harry Potter...
- Olhe lá, oh Zé Manel, quantas pessoas é que ouvem jazz em Portugal? Diga lá...
- Não sei...
- Pois, tá a ver, é tudo uma questão de números. Eu até era boa nisso, não fosse o outro tirar o lugar ao outro e eu ainda lá estava a cortar custos e a aumentar o IVA e a cobrar por conta do que os desgraçados não haviam de ganhar!
- Senhora Ministra, se me permite concluir, eu diria que são aí uns 10 000, no máximo.
- Ah, só 10 000, isso nem chega ao número de eleitores de uma freguesia do interior daquelas a que cortámos os transportes públicos por não serem rentáveis!. Vai para a vala comum e não se fala mais nisso.
- Concordo Senhora Ministra, até porque, bem vistas as coisas, o jazz já estava em decadência. Pois se em 1971 eram 10 000 no Cascais Jazz e hoje ainda são 10 000...
- Bom, de qualquer maneira é melhor contactar o Senhor Presidente da Câmara Municipal a ver se ele tem lá alguma vala com um aspecto melhorzito...

Do outro lado do telefone, Encanta Flops atende no seu estilo inconfundível:

- Daqui Encanta Flops. Estou a trabalhar a uma média de 14 horas por dia. Em que posso ser útil ao cidadão munícipe e eleitor?
- Bom dia, Flops. Olha estou aqui às voltas com o jazz e queria que me arranjasses aí uma vala comum para o empandeirar que já me está a dar cabo da imagem na comunicação social.
- A sério? Não sabia que o gajo se tinha finado. Tenho de enviar um telegrama aos descendentes do Chopin.
- Mas afinal tens ou não a vala?
- Mas oh Manela, eu agora estou aqui metido é no buraco do Marquês e não tenho tempo para isso. Só se a gente o enterrasse debaixo do túnel e dizíamos aos tugas que assim ficava no centro de Lisboa e no coração dos portugueses. Olha que bonita frase esta era para os media... Por falar nisso vou já chamar o meu assessor de imprensa para ver se me arranja mais umas frases porreiras para dizer aos jornalistas. Já te ligo.

Cinco minutos mais tarde, Flops e o assessor de imprensa reunem-se no Kremlin.
- Diga, senhor Presidente...
- Ainda não, ainda não. Tudo a seu tempo!
- Como?
- Eh pá parece que um tal de jazz ou do jezz ou lá o que é isso resolveu morrer agora e é preciso que me arranjes aí umas frases bonitas para dizer às rádios e às televisões durante o funeral.
- Então mas vai à cerimónia?
- Tenho de ir. É um evento cultural e eu sou um homem de cultura...
- Mas olhe que o jazz não tem audiências e além disso dizem que frequentava muito a noite lisboeta, improvisava, nunca acabava nada.... Enfim, não lhe recomendo nada associar-se a esse evento que tem tão pouco a ver com o Senhor Presidente.
- Tens razão pá! Vou mas é telefonar ao PR que o gajo é que diz que gosta de jezz. Ele que fique com ele lá em Belém e que lhe faça proveito. Que o ponha nos Jerónimos.

- Está lá, Senhor Presidente?
- Sim, sim, sou eu, estou aqui a escrever um discurso de três horas mas diga lá...
- É por causa do jazz, bem vê, morreu, coitado, e gostávamos de dar dignidade à cerimónia, sepultando-o nos Jerónimos.
- Pois bem, pois bem, não me parece mal. Vou ligar ao Toneca porque não vá ele, como meu sucessor, ter uma ideia melhor. Já lhe ligo.

- Estou, Toneca?
- Oh caro amigo, que pretende dialogar comigo? É para dizer quando sai daí, é?
- Nada disso. É por causa do jazz. Parece que morreu e o Flops quer sepultá-lo nos Jerónimos. O que é que achas disso?
- Bem, eu, portanto.... ora... vendo bem... Camões... Jerónimos, ah.... portanto é decidir.
- E pá, és sempre a mesma ***** pá. Decide lá!
- Vamos fazer assim, manda o Flops pôr o gajo em câmara ardente durante uns tempos com o pretexto dos amantes do gajo terem tempo para se despedir dele que eu quando estiver no teu lugar logo decido.

Lisboa, 2020

Notícia TVI: «É o escândalo. Um morto que morreu há 14 anos continua por enterrar por incúria do Estado português. Vamos já em directo para o Mosteiro dos Jerónimos! Não se esqueça de colocar no nariz o receptor de odor interactivo para viver todas as emoções desta reportagem».

Os problemas do Jazz em Portugal - Parte I: Os Festivais

Há muitos. Ainda bem; o público agradece.

São muitos mas pequenos. Pois é, nem tudo é perfeito. País pequeno, mentalidade menor, financiamentos mínimos. Vai tudo dar ao mesmo.

São financiados pelo $ público. Pois são, e bem. Jazz é Cultura e cultura é desenvolvimento. 10 estádios do Euro 2004 também foram financiados pelo $ público para neles se jogar 2 vezes por mês; não é investimento, é desperdício, praticamente um crime. Não, de facto, um crime mesmo! Em Portugal há crimes financiados pelo Estado, é esta a triste conclusão a que chego ao escrever um inocente texto sobre jazz... Trocando por miúdos: um cidadão espera 12 horas para ser atendido na urgência de um hospital: não interessa, não tem swing e só é notícia na TVI, isto se o doente tiver duas cabeças ou tiver esfaqueado o médico. Já o presidente dos pinguins da avenida Futebol Club dá uma conferência de imprensa para anunciar que nada tem a dizer sobre o degelo da terra porque o seu clube ganha com gelo ou sem gelo: acontecimento nacional, câmaras de tv em directo, o Primeiro-Ministro lamenta não poder estar presente por ter ficado entalado numa porta, o Presidente da República está retido em Belém a escrever o 50.º livro de discursos mas envia cumprimentos, a Ministra das Finanças pondera um perdão fiscal para compensar os clubes afectados pelo degelo mas está-se nas tintas para Quioto (confundiu com Quitoso). Resultado: Futebol 1 - Desenvolvimento 0. A Cultura (essa galdéria), e o Jazz (esse batuque) foram expulsos pelo árbitro logo no início, acusados de obstruir a fluidez do jogo. Cartão vermelho directo. «Boa, boa! Quem não dá votos não tem devotos», sussurram ressabiadamente 5 cágados que, à falta de melhor que fazer, Parlamentam enquanto vêem o jogo nos televisores do hemiciclo. «O povo quer é futebol e betão, eheheheh»... «Venham a nós, Senhor, os votos de tantos devotos desta religião nacional que nós, com tanto sacrifício pessoal, ajudamos a pregar a bem da coesão e da auto-estima dos portugueses», acrescenta um deles sorrindo cinicamente enquanto simula ajoelhar-se perante uma imagem religiosa.

Estão descentralizados. Que bom, Portugal já não é só Lisboa.

São profissionais. O tempo dos amadores já passou (embora ameace voltar).

São sazonais. Tudo bem, assim dá para ouvir jazz quase todo o ano e em quase todas as estações.

Têm público. SIM!

Não comunicam. Portugal é um país de quintas e hortas... Para quê partilhar o conhecimento? Por que hão-de dialogar os vários produtores de festivais que decorrem em simultâneo para que possam partilhar músicos e os respectivos custos de viagem até Portugal?

Sobrepôem-se. Não havia necessidade... com 12 meses num ano e muitas mais semanas. É mais uma vez a falta de diálogo e de concertação de interesses em benefício do público que ora não tem jazz, ora tem 2 concertos no mesmo dia em diferentes locais e festivais/concertos.

Não deixam obra. É verdade, terminado o festival 9's fora nada a não ser o prazer da audição, que já é muito! Mas a verdade é que uma % do investimento dos festivais devia ir para a formação de músicos portugueses. Mas, onde estão eles que raramente aparecem nos workshops que em alguns festivais se têm promovido com alguns dos gigantes do jazz? Já sabem tudo? Então onde estão o Miles Davis e o John Coltrane portugueses? Apresentem-mos e, mea culpa, aqui confessarei a tremenda injustiça das minhas palavras.

Têm pouca divulgação na imprensa. Pois têm e terão sempre enquanto, felizmente, a música prevalecer face ao espectáculo e aos escândalos de outras músicas mais mediáticas. Por outro lado, a sobreposição de Festivais faz com que os poucos críticos se dividam, se dispersem e alguns dos festivais fiquem na sombra. E assim se perde espaço e tempo para o jazz nos nossos media...

Não têm marketing. Pois não, ainda estão muitos deles na lógica da produção. So what? A maioria das empresas idem idem " ". Pois é, mas essas dividem-se em duas categorias: as que já faliram e as que estão à beira da falência.

Resumindo e não concluindo, muito há fazer nos festivais de jazz em Portugal mas não deixa de ser verdade que o mais difícil já foi feito por pessoas como Luís Villas-Boas, Duarte Mendonca, Paulo Gil, José Duarte ou António Ferro, só para nomear alguns dos mais importantes produtores e promotores.

Jazz ao Centro ou Jazz à margem?

É apenas um comentário construtivo e que mostra que nem só no Governo e no país o dito centro causa ansiedade, angústias e dúvidas.

«Jazz no País do Improviso!» saúda e aplaude todas as iniciativas de jazz em Portugal e não só.

MAS...

Jazz ao Centro, apesar de ser uma iniciativa importante, comete dois pecados capitais.

A saber (como se dizia no tempo da outra senhora que, certamente, não devia gostar de jazz mas morreu, por ironia, vítima do swing rasteiro da cadeira em que arrastava os seus e os nossos dias...):

1 - Os músicos de jazz representados estão todos centrados numa certa corrente que de centro nada tem, de jazz só vagamente. São, digamos, projectos de margens que se inspiram no jazz (com excepções, claro);

2 - A palavra jazz (que dá para tudo, até para vender automóveis, perfumes, rádios e lingerie feminina) induz em erro o público deste evento que vá à espera de um jazz, passe a expressão, mais ao centro, isto é, com swing, standards, temas com princípio meio e fim, etc... O mainstream, se quiserem. Ora, não encontrando isto, só tem duas atitudes a tomar: abandona a sala (como tantos fizeram no concerto de Cecil Taylor, apesar da qualidade da música); não abandona a sala, por respeito para com os músicos e os euros que gastou, mas abandona o festival e demais eventos que lhe venham a propor com a palavra jazz. É, portanto, uma questão de expectativas defraudadas, não por intenção da organização, como sei, mas por culpa do programa do festival, isto, é do elenco ser todo de uma corrente muito marginal e fora do que o português comum espera encontrar no jazz ou está habituado a ouvir como jazz, em programas como o «5 Minutos de Jazz».

«Jazz no País do Improviso!» deixa pois um conselho à organização deste festival: uma vez que o Jazz ao Centro é em larga medida financiado por dinheiros públicos (vulgo Câmara Municipal de Coimbra, tanto quanto sei), conceber um festival não elitista, não vanguardista, não à medida de certos músicos (para ser simpático...) mas do que o público quer; um festival em que todos se revejam e possam encontrar um foco de interesse; um festival diversificado na oferta e que represente desde a vanguarda até ao jazz mais mainstream, que o há, e muito bom, tocado por muitos jovens e velhos talentos. Em suma, um festival a pensar no público, especialmente o do Centro, que é para o jazz continuar a ter público, cada vez mais público. Ou, então, assume-se e posiciona-se claramente como um festival de 'vanguarda' ou 'pseudo-vanguarda', ou vanguarda da vanguarda que está realmente para vir e então o público sabe exactamente ao que vai.

De resto, tudo bem. A organização tem primado por escolher locais e salas interessantes para o festival, promove-o bem, etc... Talvez precise é de um consultor técnico para a programação, cargo para o qual desde já me manifesto absolutamente indisponível, até por uma questão de coerência e isenção.

Enfim, foi apenas um desabafo para que Coimbra não venha, em matéria de jazz, a ser uma lição mal ensinada e pior aprendida.

5 de março de 2004

Já comprou a sua «All Jazz» ?

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Pois é, há que apoiar a única revista portuguesa sobre jazz, à venda nas melhores livrarias, nomeadamente na Barata e nas FNAC.

E nem as duplas capas servem de desculpa... O John Patitucci, por exemplo, quando lhe mostrei a «All Jazz» adorou a ideia das duas capas e folheou interessadamente a revista, mostrando-se satisfeito por haver algo do género em Portugal (ok, já sabemos que os norte-americanos são aquele povo que pensa que em Portugal não há luz eléctrica nem auto-estradas, tal como pude constatar pelas questões que me colocaram na minha deslocação à Florida...).

Enfim, a questão é que sem leitores (que felizmente vai havendo) não há anunciantes e sem anunciantes não há revista e sem revista perde-se um dos poucos pólos de divulgação do jazz e dos jazzmen portugueses!

Vá lá...

Jazz em Saldos na MC

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«Jazz no País do Improviso!» está sempre ciente do custo de vida no país real e portanto não deixa passar em claro as promoções e saldos de jazz de que vai tendo conhecimento.

Ora, sucede que passando hoje à hora do almoço pela loja Mundo da Canção, no centro comercial Picoas Plaza, detectei um interessante lote de discos de jazz a 9 e 11 euros, desde Dexter Gordon, Dizzy Gillespie, Charles Mingus, a Weather Report, Richard Bona e Al Di Meola.

Vale a pena passar por lá até porque a MC tem para venda alguns discos de Miles Davis que dificilmente se encontram noutras lojas, assim como trabalhos de músicos de fusão que raramente ocupam as prateleiras da FNAC e outras.

[foto: Richard Bona]

4 de março de 2004

Já está aí a 'Downbeat' de Março

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E o principal destaque é Horace Silver, músico que aos 75 anos já nada tem a provar e vive agora retirado em Malibu, na Califórnia.

Para quem não saiba, são dele alguns dos temas mais interessantes e populares do jazz, tais como “Señor Blues”, “Sister Sadie”, “The Preacher” e, principalmente, “Song For My Father”.

Fica-se a saber nesta entrevista da «Downbeat» que a gravação de um novo CD está nos seus planos.

Notícia interessante desta edição é também o regresso de Wynton Marsalis às tournées, ainda que só estejam previstas actuações nos EUA. Desde o final dos anos 80 que Marsalis não o fazia com regularidade...

Boca no trombone!

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Quem será a conceituada figura ligada ao jazz em Portugal que se prepara em breve para ter uma coluna na imprensa com o sugestivo título «Boca no Trombone»?

A ideia é falar livre dos constrangimentos do politicamente correcto, doa a quem doer e sem papas na língua.

O tema é, claro, o jazz que se apresenta cá por este cantinho à beira mar plantado, cortando com a ideia de que tudo o que se faz é bom só porque é jazz ou é jazz só porque é improvisado.

Parece que é já a partir de Março; depois digo quando e onde, e ou me engano ou vai soar forte e feio em muitos e bons ouvidos...

2 de março de 2004

I had a nightmare!

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Esta noite tive um pesadelo e acordei perfeitamente angustiado.

A cena passava-se num festival de jazz ao ar livre, promovido por uma Câmara Municipal do norte de um país dito civilizado. Acho que era Portugal... mas não deu para perceber porque foi tudo muito rápido.

Estavam os músicos a tocar quando um deles deu uma fífia (isto é, uma nota fora da harmonia) e de repente o Presidente da Câmara entrou pelo palco dentro e gesticulou ameaçadoramente o músico. A polícia tentava agarrá-lo à medida que o estupefacto músico ia retrocedendo para evitar confrontos. Entretanto, o dito presidente ia partindo os instrumentos e pontapeando os amplificadores, porque, dizia ele, «eu é que paguei isto tudo e portanto posso».

Lembro-me que depois o dito presidente foi à televisão dar uma entrevista e chamava mentiroso, aldrabão e vesgo ao entrevistador. A outra pivot, já noutro canal, assumia-se como hooligan.

O problema é que não sei donde raio me veio este pesadelo tão disparatado... Apenas me lembro de que um dos polícias gritava, «tenha calma presidente Avelino, tenha calma». Terá sido no Brasil?

1 de março de 2004

Jazz de 7,95 a 9.50 euros na FNAC CHIADO

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Atenção a quem gosta dos bons discos clássicos do jazz.

Alguns discos da colecção RUDY VAN GELDER (o produtor dos discos Blue Note) estão a preços de saldos na FNAC do Chiado, isto é, 9,50 euros:

- Maiden Voyage - Herbie Hancock
- Indestructible - Art Blakey & The Jazz Messengers
- Blue Train - John Coltrane

Além destes, estão ainda disponíveis discos de Lou Donaldson, McCoy Tyner, Horace Silver, etc...

Em especial promoção estão grande parte dos discos de Brad Mehldau. 7,95 é quanto terá de desembolsar para levar algumas das suas obras em trio.


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